segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os Espelhos da Memória


Algo realmente sobrenatural se manifestava naquela sala onde o tempo parecia ter parado...Algo que desafiava a sanidade dos aventureiros mais experientes e provocava calafrios sem fim em qualquer mortal. Ali, sentado em seu gasto trono, estava a imagem de um ser de maldade suprema; uma entidade que uma vez fora um homem honrado mas que desafiou os deuses e blasfemou contra tudo o que eles representam. Ali, bem diante dos viajantes estava Lord Soth de Nedragaard, o infâme Cavaleiro da Rosa Negra! E olhar para aquela imagem era algo extremamente doloroso...a sanidade do grupo estava por um fio!

Poucos foram os aventureiros na Terra das Brumas que alguma vez estiveram face a face com um Lorde Negro. E menos ainda foram os que sobreviveram a esta experiência. Os crimes e atos vis cometidos por esses indivíduos são a energia que alimenta o Semi-Plano do Pavor. Mas alguma coisa estava errada: aquela imagem apagada, imóvel e aparentemente débil apenas remetia a tudo que o grupo ouvira sobre Lord Soth. Ele parecia perdido em memórias de seu trágico passado, entorpecido pelas ilusões que agora experimentava. Não era possível tocá-lo e tampouco desafiá-lo, afim de cumprir a profética sentença a qual o outrora nobre cavaleiro foi condenado. Ao redor do trono, fixados à parede, estavam 6 espelhos de formato oval. Os Espelhos da Memória, como havia falado Jaspo. Do que essas relíquias eram capazes? Quais poderes sombrios elas proporcionavam ao lorde negro? Ninguém ali naquela sala sabia dizer. O próprio Jaspo fora deixado na sala do Templo de Paladine, para que ele pudesse descansar e recuperar-se de tantos anos de tortura e privações. E Raistlin havia permanecido na biblioteca, imerso em sua busca pessoal por conhecimento e poder...

Capsoniwon aproximou-se do trono e tentou tocar o corpo do cavaleiro. Sua mão passou por entre a imagem que ali se mantinha imóvel. Não era possível tocar em sua espada, da mesma forma. O grupo pôs-se a pensar. Começaram a tentar remover o trono de lugar, o que demonstrou-se impossível. Examinaram a sala cuidadosamente, até que Capsoniwon começou a fitar hipnóticamente um dos espelhos durante alguns segundos. O reflexo da sala reproduzido no espelho deu lugar a uma cena selvagem, um estrada no meio da mata. De repente ela se viu transportada para tal cena! Ouvia-se alguns murmúrios no interior da mata, como um choro sendo preso. Do outro lado, na estrada, era possivel ouvir violentos galopes de cavalos que pareciam aproximar-se. Sentindo a aproximação de viajantes a cavalo, a elfa buscou abrigo na mata, escalando um pequeno barranco que a separava da estrada. Ao aproximar-se da floresta, ela pode determinar de onde vinham os lamentos: havia uma clareira na floresta onde uma dúzia de mulheres elfas eram feitas prisioneiras de uma horda de Ogros. Observado a distância, Capsoniwon voltou sua atenção para a estrada, onde naquele momento passava um grupo de cavaleiros. Era uma comitiva nobre, contando com cerca de 10 cavaleiros vestido pesadas armaduras, e no centro do bando uma carroça repleta de estandartes militares onde destacava-se o símbolo da Rosa Negra. Os cavaleiros passaram rapidamente pelo trecho e perderam-se de vista...A elfa resolveu procurar o ponto onde havia entrado naquela cena para voltar e falar com seus companheiros. Havia uma marca oval preta no meio da estrada, exatamente onde Capsoniwon aparecera anteriormente. Ela passou pelo círculo e viu-se novamente na sala do trono. Seus amigos, assustados, disseram-lhe que durante alguns minutos ela permaneceu imóvel e sob uma forma incorpórea, tal qual Lord Soth...Ela havia entrado em um dos Espelhos da Memória, onde o cavaleiro relembrava e recriava memórias de seu tormentoso passado.

Enquanto Capsoniwon recobrava-e da experiência no primeiro espelho, os demais aventureiros tentavam entrar nele, buscando cada um ao seu modo, a solução daquele enigma. Logo a seguir, a elfa começou a fitar o segundo espelho. Novamente foi transportada. Agora ela estava vestindo uma pesada armadura de cavalaria, ornada com o símbolo da rosa negra no peito. Ela andava por um corredor iluminado por lamparinas onde mais símbolos militares estavam dispostos nas paredes. Vozes ouviam-se na sala ao lado. Uma porta, no fim do corredor, parecia dar acesso ao local. Sem hesitar, a elfa abriu a porta e entrou, tapando o rosto com um capuz. Acontecia uma espécie de reunião naquele lugar. Cerca de 20 pessoas, quase todas membros da cavalaria, estavam sentados em 4 bancos de madeira, formando uma espécie de platéia. Diante deles estava uma tribuna composta por 3 indivíduos: dois homens que ostentavam vastos bigodes sentados nas pontas e ao centro uma mulher. Eles pareciam presidir essa estranha reunião. Havia um estandarte exposto atrás de cada um deles: uma espada, uma coroa e uma rosa, respectivamente. Quando a elfa entrou na sala, a conversa foi interrompida e todos os presentes a fitaram por um demorado instante. Um tanto constrangida por atrapalhar a formalidade da ocasião, Capsoniwon buscou sentar-se rapidamente. Prestando mais atenção na cena, a elfa percebeu que a mulher sentada ao centro da bancada era extremamente parecida com ela mesma, como se as duas fossem uma imagem refletida no espelho...Capsoniwon perdeu a respiração por um breve instante...aquela era, sem dúvida, Kitiara Uth Matar, a Dama Azul!

Entre a tribuna e a platéia estavam 2 homens de pé: um bastante jovem, vestido humildemente e com as mãos e pés acorrentados. O outro, vestido de maneira muito distinta, também ostentava um imponente bigode. Este último falava de forma exaltada e apontava para o jovem cabisbaixo. O homem de pé que acusava ferozmente o mais jovem era Lord Soth em sua forma humana original. O acusado só poderia ser...Caradoc! Poucos segundos depois, a mulher no centro da Tribuna anunciou em alto tom: - Caradoc, você está condenado à morte pela lâmina de sua própria espada por assassinar Lady Glandria, esposa de Lord Loren Soth de Dargaard. A sentença será cumprida na primeira luz da manhã! A sessão deste tribunal está encerrada - Aquela cena relembrava o julgamento de Lord Soth. Mas os papéis haviam se alterado: nessa cena era Lord Soth que acusava Caradoc! O jovem senescal do Castelo Dargaard havia sido julgado e condenado pelo assassinato de Lady Glandria, segundo a memória doentia do cavaleiro da Rosa Negra... E Kitiara presidia o tribunal da ordem de Solamnia?! Mas de acordo com o Conto da Dama Azul ela sequer era membro da ordem! Algo estava errado...

Os companheiros encontraram-se na sala depois que todos deixam os espelhos. A cena dos Ogros repetiu-se da mesma forma para o resto do grupo como acontecera para Capsoniwon. Algumas horas já haviam se passado nos poucos minutos em que eles estiveram imersos nas memórias de Soth. No entanto, muitas interrogações surgia nas cabeças dos aventureiros: mas qual a razão daquilo tudo? O que havia ali de importante para Lord Soth relembrar? Aquelas memórias não correspondiam literalmente a história de Lord Soth! Estavam mudadas, adulteradas, transformadas. Mas porque??? Nesse instante, Dimitre começou a recitar o Conto do Cavaleiro das Sombras, repetindo alguns versos que faziam menção ao ataque de um bando de Ogros a Lady Isolde e suas 13 companheiras. Foi naquela ocasião, parcialmente revivida no primeiro espelho, que Soth e Isolde se conheceram e onde começou toda a sua desgraça! Capsoniwon então afirmou: - Cada um desses espelhos traz alguma parte importante do passado de Soth. Ele tenta alterar a sua própria história revivendo esses episódios...Ele está tentando evitar conhecer Lady Isolde na primeira memória!!! Ele está acusando Caradoc pelo assassinato de Lady Glandria na segunda memória!!!

Tudo fazia sentido agora: os elfos de Sithicus estavam sofrendo de amnésia por que o lorde negro do domínio estava alterando suas prórias recordações. Terremotos, tempestades e toda sorte de calamidades aflingiam essa terra porque Lord Soth havia abandonado-a, vivendo os últimos meses imerso nos espelhos. O domínio provavelmente se reduziria ao Castelo Nedragaard se o Cavaleiro da Rosa Negra não fosse acordado de seu entorpecimento! Os aventureiros respiraram fundo, se entreolharam e resolveram que iriam entrar nesse espelho, tentando recolocar as memórias de Soth em seu curso normal, ou seja, fazendo com que as coisas se repetissem nos espelhos como realmente aconteceram na vida real do lorde negro! Ele deveria conhecer Lady Isolde e cometer todos seus crimes novamente...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Andar Proibido: o Templo de Paladine


Depois de explorar a sala da Capela de Mishakal, os aventureiros resolveram investigar a porta oposta. O grupo avançou até a entrada da sala, que encontrava-se igualmente trancada por cadeados enferrujados. Na grande porta de madeira estava gravada uma imagem de um Dragão de Platina. Raistlin arrombou a sala usando uma de suas mágicas. A sala mostrava os mesmos sinais de desgaste e abandono que o templo de Mishakal. Quando iluminou-se o local, foi possível perceber uma enorme estátua esculpida em metal sobre um altar. Era a imagem de um dragão. Nos pés do altar estava gravada uma escritura, que foi decifrada por Raistlin: Deus Paladine, o Dragão de Platina, a Espada da Justiça. A lado da imagem encontrava-se uma fonte de mármore seca. Os aventureiros começaram a observar a estátua e uma voz sussurou algo nas mentes de Dimitre, Beren e Capsoniwon: - Me liberte! Me liberte! Enquanto isso, Lothar criou água e encheu a fonte através de seus poderes divinos. O sacerdote iniciou um conjunto de preces, consagrando aquela água segundo as graças de Enlil.

As vozes continuavam a falar nas mentes dos guerreiros. Beren partiu em direção ao altar e tentou mover a estátua, dizendo aos outros que lhe ajudassem a derrubá-la no chão. Numa combinação de esforços, os guerreiros tombaram a imagem de seu altar. A queda foi tão violenta que a estátua se espatifou em vários pedaços. Um brilho surgiu entre os fragmentos: era uma espada, cuja lâmina estava queimando em brasas vermelhas. Beren arrancou um pedaço de tecido de seu manto, enrolou-o na mão e pegou a espada. O elfo largou a arma dentro da fonte, afim que o metal incandecente esfriasse. Ao fazê-lo, ouviu uma voz forte: - Olá novo portador! Eu sou A Fazedora de Votos e meu objetivo é destruir os cavaleiros desonrados, servos das sombras - era a própria espada que lhe falara aquelas palavras! Ela havia sido colocada naquele templo pelo próprio Deus Paladine, para derrotar Lord Soth e seus serviçais mortos-vivos.



Raistlin, que assistia aquilo tudo com certo desinteresse, alertou os companheiros que ouvira passos nos corredores e que alguém se aproximava. Os guerreiros tomaram posição no momento que um grupo de 4 guardas do castelo os viu pelo corredor que levava até o templo. Os guerreiros-esqueletos de Nedragaard avançaram violentamente até a entrada da capela, mas não cruzarama linha que dividia o corredor do templo. Algo não lhes permitia que entrassem naquele solo sagrado. Nesse momento, sem dar atenção para qualquer dessas questões religiosas, Raistlin detona uma Bola de Fogo sobre o grupo de mortos-vivos. Thynnus, Beren e Dimitre também se lançam em carga sobre os guerreiros-esqueleto. Capsoniwon começa a escalar as paredes tentando colocar-se sobre os guardas enquanto Lothar toma uma poção mágica de Levitação. O combate é mais uma vez brutal. Os guerreiros trocam violentos golpes de espada com os guardas enquanto Capsoniwon e Lothar jogam frascos de água benta sobre eles. Após alguns instantes de furiosa carnificina, os guardas de Soth são derrotados. Os aventureiros então dirigem sua atenção para a única sala que não havia sido explorada naquele andar: aquela que se colocava no lado oposto a escadaria de acesso. Chegando diante da enorme porta de madeira, igualmente abandonada, os companheiros abrem-na sem grandes problemas. Tratava-se de uma biblioteca esquecida. A biblioteca pessoal de Lord Soth. Raistlin rompeu seu tradicional silêncio enigmático com uma série de comentários entusiasmados. O elfo começou a revirar prateleiras, folhear tomos, livros, pergaminhos e escritos avulsos como se fosse uma criança maravilhada diante de seus novos brinquedos, ignorando completamente qualquer perigo ou maldição que pudesse rondar aquele local. Os demais esparavam pelo mago com pouca paciência e não haviam se empolgado tanto com a descoberta. Eles queriam acessar o andar seguinte...a sala do trono do Castelo Nedragaard...

Após algumas horas de detalhado exame na biblioteca, Raistlin juntou uma dúzia de obras que lhe interessavam entre centenas de livros sobre contos de cavalaria, táticas de guerra, história e geografia de um mundo chamado Krynn e outros escritos considerados de menos importância. Raistlin entrega um tomo grosso, com refinada capa de couro a Lothar: - Estude isso, sacerdote - Tratava-se do livro Da Chegada do Dia, um compêndio antigo sobre necromancia. Lothar não hesitou e guardou-o junto de seu poucos pertences. O grupo aproveitou a pausa para descansar, cobrir ferimentos e se refazer do combate, imaginando como seria estar face a face com o lorde negro de Sithicus, se é que o Cavaleiro da Rosa Negra estaria em seu trono. Raistlin argumentou que precisava de mais tempo para procurar livros que poderia ajudá-los a enfrentar Soth e voltar para casa. Mas já era tarde. A noite se aproximava e as Banshees começariam a vagar pelos corredores a procura de intrusos. E todos sabiam: durante a noite elas poderiam lançar seu lamento mortal sobre o grupo! Após trocarem olhares de incerteza, os aventureiros respiraram com calma por uma úiltima vez e dirigiram-se para o lance de escadas que os havia levado até esse andar proibido de Nedragaard. Raistlin mostrou-se intransigente sobre a necessidade de continuar a jornada e preferiu permanecer na biblioteca, sozinho. Seus companheiros lhe deram as costas então. O elfo parecia perdido em sua sede de poder e conhecimento, como nos tempos em que carregava um blasfêmio livro de magia negra que quase custou sua vida. Jaspo, que ainda estava fraco, preferiu ficar descansando na sala do templo de Mishakal. Parecia ser um lugar seguro e proibido às criaturas sombrias do castelo. Os aventureiros seguiram. Subindo os degraus com alguma hesitação eles enxergam um enorme salão, repleto de estandartes militares. No centro da sala há um trono. E sentado nele havia algo inexplicavel, horrendo, infernal...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Andar Proibido do Castelo: o Templo de Mishakal


Subindo pela escada em espiral, o grupo deparou-se com um enorme corredor em forma de cruz. Do lado oposto ao que se encontravam, os aventureiros viam uma enorme porta de madeira. O aspecto de abandono nesse andar era superior ao dos demais, o que parecia indicar que mesmo antes de Lord Soth ter desaparecido nos tais espelhos, esse local era pouco visitado. A escadaria seguia para o andar seguinte, que segundo Jaspo era a sala do trono. Mas o minerador contou aos companheiros uma história que ouviu nos seus tempos de prisioneiro dessas imundas masmorras: - O Cavaleiro da Rosa Negra nunca andava por esses corredores! Eles carregam memórias de seu passado, de um tempo em que ele era um homem honrado e lutava em nome do bem. Deve haver algo aqui nesse lugar que Lord Soth precisa evitar. Somente alguns guardas fazem vigia por aqui, uma vez ou outra...

Raistlin e Beren resolvem andar até o centro do corredor, onde ele dividia-se em 4, segundo os pontos cardeias. Observando os corredores opostos, localizados nos extremos de Leste e Oeste, os elfos conseguem perceber símbolos talhados em metal nas imensas portas de madeira. Lothar e chamado para verificar. Ao aproximar-se um pouco mais, o grupo enxerga na porta da direita um ornamento de uma mão com um olho no centro. A peça é talhada em ouro. Lothar suspeita que este seja um símbolo religioso de alguma divindade de cura, pois a mão é uma referência universal dos curandeiros, médicos e sacerdotes desse tipo de poder. Na porta do corredor oposto, vê-se outro símbolo talhado na porta: um dragão de platina com trajes cavalherescos, brandindo uma lança. O grupo resolve explorar a sala com o símbolo da mão...

A porta estava trancada com pesadas correntes e cadeados, como se fosse escondesse algo realmente importante ou indesejado. Raistlin conjurou um feitiço para arrombar a passagem. Ao entrarem, os aventureiros iluminam a sala. Ela é ampla, em forma quadrada e encontra-se bastante danificada. Há colunas partidas no chão e poeira por todos os cantos. Nos fundos da sala existe uma enorme bacia de metal que parece-se com uma caldeira. Ao lado está alguma coisa coberta com um enorme pano de couro. Os companheiros retiram o pano e revela-se então uma enorme estátua de mármore sobre um altar. A estátua está quebrada na altura da cintura e vários fragmentos dela encontram-se espalhados pelo chão. A caldeira é acesa por Thynnus e Dimitre e um perfume suave toma a sala. Então, subitamente Lothar escuta uma voz em sua mente: - Cure-me, cure-me por favor!

Aquela era uma voz feminina repetindo-se incessantemente na cabeça do sacerdote. Enquanto isso, Raistlin conjurava um feitiço para ler as incrições que estavam gravadas aos pés do altar. Ali dizia: Mishakal, a Mão Miraculosa. Aquilo provavelmente era a capela de uma deusa a que Lord Soth deve ter servido enquanto era um nobre cavaleiro mortal. Lothar começou a desesperar-se e perguntou aos amigos se eles também escutavam aquele lamento. Nenhum deles estava ouvindo nada; a sala estava em completo silêncio...O sacerdote então repetiu as palavras, afirmando que achava que a misteriosa deusa estava se comunicando com ele. Beren pensa por alguns instantes e de repente começa a juntar os pedaços de pedra - Acho que devemos consertar essa estátua - diz o elfo decididamente. Os companheiros ajudam-no e quando todos os pedaços estavam sendo seguros, Lothar convocou uma magia para moldar as rochas, recompondo a imagem original. Um clarão encheu a sala de repente. Naquele instante, a deusa Mishakal curou todos os ferimentos e doenças do grupo com sua mão miraculosa. Jaspo podia enxergar novamente e todos sentiam-se bem e fortes de novo! A jornada devia continuar...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pelos Corredores de Nedragaard


Dimitre quase perdeu a respiração quando bateu os olhos sobre seu pai, depois de 15 anos. O pobre mineiro estava em condições miseráveis: magro, esfomeado, ferido, envelhecido e cego. Dimitre pediu a ajuda de Thynnus para carregar o mineiro para fora da cela, enquanto os demais soltavam os outros prisioneiros. Jaspo parecia não acreditar em seus ouvidos. Aquela voz era mesmo de seu filho. O pequeno Dimitre agora era um homem! Ele e seus amigos apareceram em Nedragaard para acabar com aquele sofrimento...

Enquanto o grupo assistia àquela cena de rara felicidade num lugar tão maldito como as masmorras desse castelo, o som de pesados passos e metal sendo arrastado ganhava volume no corredor logo à frente. Uma voz cavernosa perguntava novamente aos aventureiros: - Quem está aí? Antes que o grupo pudesse articular uma resposta, Jaspo retrucou: - Um peregrino da Rosa Negra! Os 3 guerreiros-esqueletos que faziam a guarda daquele andar pareciam satisfeitos com a resposta, dando meia-volta e iniciando a vigia em outras partes do castelo. Os aventureiros ficaram surpresos com a perspicácia do velho homem. Jaspo então disse-lhes que Lord Soth estabelecia diariamente senhas para seus guardas. Aos visitantes desejados, Soth antecipava as senhas. Quem as respondesse corretamente não era importunado pelos guardas. Como já se passavam 2 meses desde que o Cavaleiro da Rosa Negra não saia da sala do trono, as senhas permaneceram as mesmas.

Algumas instruções foram dadas aos prisioneiros para que eles saíssem da fortaleza em segurança enquanto o grupo se preparava para avançar na exploração do local. Mas Jaspo sentia muita dificuldade em andar, tendo que ser carregado por Thynnus. O grupo então segue pelo corredor oposto ao que tinha entrado, passando por mais um portão. O corredor seguia em curva e terminava em um saguão onde aparecia uma escadaria de pedra em espiral, que dava acesso ao andar superior do forte e outro corredor que avançava pelo restante desse andar. Atrás da escadaria havia 3 portas, parecendo dormitórios. Um vento frio começou a soprar pelos corredores, anunciando que algo estranho e sobrenatural aconteceria...quando Lothar se aproximou das portas, o cego minerador gritou: - Cuidado! As Banshees!!!

Aquela atmosfera maligna envolveu o grupo novamente: 3 Banshees atravessam as portas dos dormitórios, atacando inesperadamente os aventureiros. Elas estavam provavelmente defendendo seu território contra invasores indesejados. Lothar novamente tenta evocar os poderes divinos de Enlil, a senhora dos elementos. Os espíritos malignos se retorcem ao encarar o sacerdote e seu simbolo sagrado em punho. Palavras sagradas e louvores são recitados, fazendo com que as Banshees dolorosamente recuem, procurando com desespero uma saída de seu próprio covil. Novamente o mal fora afastado pela virtude de Enlil e seu devoto sacerdote. Os aventureiros resolveram então vasculhar os dormitórios em busca de alguma pista ou tesouro. Lembravam que o próprio senescal de Soth, Azrael, suspeitava que as Banshees guardassem riquezas em seus quartos. Foram achados pergaminhos, ouro, prata, platina, algumas jóias, além de uma fina Cota de Malha Élfica, extremamente resistente porém muito leve. Enquanto dividiam os tesouros encontrados, o grupo ouviu passos nas escadas que vinha do andar de cima. Aquele ruído de metal sendo arrastado já tornara-se costumeiro: os guardas do forte Nedragaard...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Em Busca de Jaspo

Deixando para trás a ferraria do castelo Nedragaard, os companheiros resolveram subir ao andar seguinte. Eles deveriam ter cuidado, pois mais guardas estariam rondando a fortaleza e existiam ainda aqueles espíritos horrendos chamados Banshees, que vagavam por Nedragaard durante o dia, em busca de visitantes para aterrorizar. O grupo acendou duas tochas e começou a exploração do forte de Lord Soth...

Subindo pelos lances de escada que se encontrava numa das laterais do enorme salão central, os aventureiros alcançam o segundo andar. Ali encontraram um vasto jardim interno, onde cresciam desordenadamente grandes ramos de folhagens e plantas exóticas. Ao examinarem o local com mais cuidado, encontraram um poço tampado com uma grade. Algum grande animal se arrastava por ali, em meio a restos de refeições e escrementos. Indo em direção ao interior do jardim, Raistlin avistou um corpo caído entre plantas espinhosas de cor rubra. Beren foi se aproximando com cuidado e virou o corpo para cima: era um elfa de meia idade. Ela estava com uma pequena faca de jardinagem em uma das mãos e uma bolsa pendurada na cintura. A elfa deveria estar morta há cerca de 3 dias. Enquanto Beren examinava o cadáver, as plantas começaram a se mexer. O elfo deu um passo para trás, tentando puxa o corpo da elfa junto, mas um ramo da planta agarrou-se a sua perna. Com um golpe de espada o elfo se libertou. O grupo analisou o corpo e viu que deveria tratar-se de Kellastra, a dona do boticário em Har-Thelen. Ela carregava uma poção em sua bolsa, além de algumas amostras de plantas colhidas ali mesmo. Em seu antebraço estava escrita uma mensagem: "Um peregrino da Rosa Negra"...os amigos se entreolharam mas a frase não fazia sentido para ninguém ali.

Andando mais um pouco, puderam ver na outra extremidade do jardim uma fonte desativada e uma pequena escada que dava acesso a uma porta fechada. Enquanto andavam, ouviram o som passos pesados e metal sacudindo. A porta se abriu e ouviu-se novamente uma voz vinda das profundezas: - Quem está aí? Capsoniwon e Thynnus se esconderam atrás da fonte. Os demais sacaram suas armas e esperaram o combate. Não obtendo respostas, os soldados mortos-vivos de Soth atacaram o grupo novamente. Dimitre e Beren avançaram pelos flancos, abrindo caminho a golpes de espada. Lothar preparava-se para conjurar um feitiço e Raistlin havia sumido entre as folhagens. Capsoniwon e Thynnus também sacaram suas espadas e atacaram o grupo de soldados esqueletos de surpresa. Espadas quebravam ossos e metal furiosamente naquele jardim demoníaco, até que o último dos guardas foi vencido!

O grupo se recobrava da batalha enquanto Raistlin adentrou a porta de onde vieram os soldados. A passagem dava acesso a um quarto. Havia uma pequena cama encostada na parede, um par de botas sujas de lama e uma gaiola aberta sobre a cama. Num dos cantos do quarto havia uma pequena peça de madeira com uma escrivanhia. Os aventureiros, um pouco desconfiados, presumiram que tratava-se do quarto do anão Azrael, o senescal de Lord Soth que eles mesmos deram cabo numa batalha em Fumewood. Beren aproximou-se das botas e foi possível ouvir um guizo. - Esse é o som de uma serpente! afirmou Thynnus preocupado. Percebendo que a origem do ruído era dentro de uma das botas, Beren desferiu um golpe que partiu o calçado ao meio. Uma cobra negra de pele brilhante teve o mesmo destino da bota. Era o animal de estimação de Azrael...Poderia se juntar a ele agora no inferno, pensaram os amigos...

Revirando o quarto, o grupo descobriu estranhos desenhos em baixo da cama do anão. Dimitre reconheceu-os como sinais de proteção contra as Banshees ou os demônios que o anão costumava convocar. Raistlin tentou copiá-los em seu livro. Durante a inspeção na escrivanhia, novas anotações do servo de Soth foram achadas. A caligrafia era idêntica. Pareciam notas antigas e talvez fizessem parte do diário que os companheiros acharam quando derrotaram Azrael.

- Lord S acha que o medalhão e a jóia negra estão aqui no reino. Ele disse que as aparições do espírito de K estão sendo relatadas por que ela deve ter saído da jóia, de alguma forma.
Eu nunca vi tal jóia ou a própria K. Talvez C tenha reaparecido em Sithicus.

- Preciso refazer as runas na sala do trono. Se o tal dragão azul aparecer, ele poderá atacar o castelo e ferir Lord S. Nós não queremos isso! Lord S disse que é preciso mais sangue dos Kenders para refazê-la. Mas esses seres imundos parecem ter sumido de Kendralin. Não vejo um há meses.

- Aramil disse que o filho do mineiro está de volta ao reino. Talvez ele saiba onde fica o Lago
.

Lendo essas mensagem, o grupo percebeu que Lord Soth sabia que Khellendros viriam em busca de vingança. O Lorde tinha tomado as precauções necessárias e estava protegido da fúria do dragão azul, por enquanto...

Os intrépidos aventureiros decidiram seguir por um dos 2 corredores que se estendiam nas laterais do quarto de Azrael. Tomaram o caminho da esquerda. Após alguns passos, foi possível ouvir murmúrios e gemidos, além do som de correntes sendo arrastadas. Ao iluminarem o fim do corredor, enxergaram uma grade que impedia o avanço. Quando Dimitre avançava para tentar abrir o portão de ferro com alguma das chaves que ele havia achado junto a um dos guardas uma visão terrível se apresentou ao grupo: 5 vultos flutuantes, com contornos femininos graciosos e vestindo longos mantos brancos surgiram por entre as grades. Pensamentos aterrorizantes inundaram as mentes dos companheiros naquele momento...eram as temíveis Banshees! Espíritos de elfas malignas que foram privadas de seu descanço para atormentar outros desgraçados pelas madrugadas do mundo. Ao verem aqueles rostos retorcidos e envelhecidos pelos séculos de sofrimento, os aventureiros perderam os movimentos, como se tivesse sido congelados. As tochas cairam no chão e os poucos que se recobraram do choque inicial tentaram esboçar alguma reação: Lothar agarrou-se desesperadamente a sua fé e ao símbolo sagrado de Enlil que carregava. Evocando palavras esquecidas e cânticos de glória a divindade elemental, o sacerdote conseguiou afugentar 3 daquelas aberrações, que permaneciam semi-visíveis àquela luz diurna. Beren e Thynnus, recobrados do instante de paralisia, tentaram golpear os espíritos, mas antes disso foram atingidos pelo toque gelado e macabro das Banshees. Ao sentirem aquela dor fria, seus corpos pareceram envelhecer uns 4 ou 5 anos instantaneamente.

Vencendo o temor que aquela macabra visão proporcionava, os guerreiros partiram para um combate desesperado. Mas aqueles espíritos malignos continuavam se esgueirando pelas sombras do corredor e atacando com seu toque gelado. A duras penas, os companheiros venceram as Banshees que não haviam sido desconjuradas. Dimitre então abriu o portão e notou que ele dava acesso a uma série de celas: era a prisão de Nedragaard. Ali poderia estar seu pai!

Olhando nas celas, os aventureiros encontraram alguns mineradores humanos, uma dúzia de elfos e um homem muito magro, com o corpo profundamente ferido e envelhecido. Seus cabelos estavam completamente brancos e ele vestia apenas trapos esfarrapados. Seu olhar era perdido numa contemplação sobrenatural, como se guardasse algum segredo terrível. Alguma coisa naquele misterioso homem lembrava Dimitre. Aquele coitado era nada menos que Jaspo, o pai do meio-vistani...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Entrando na Fortaleza Nedragaard

Ao avançarem pela Grande Fenda naquela manhã cinzenta, o grupo já podia avistar os cotornos da imponente Fortaleza Nedragaard, no coração de Sithicus. O castelo era cercado por uma enorme muralha de cerca de 8 metros de altura. A única entrada era uma ponte levadiça que estava muito velha e danificada. Mesmo assim, os impetuosos aventureiros resolveram cruzar a velha ponte de madeira que ligava a estrada ao portão do forte. Aparentemente não havia ninguém guardando a entrada da cidadela. Mas uma coisa era certa: os elfos de Sithicus jamais se aventuravam por estas bandas por vontade própria...

Conforme a cigana Magda havia falado, esse castelo foi um "presente" dos Poderes Sombrios ao Cavaleiro da Rosa Negra. Era, portanto, uma imitação imperfeita da fortaleza de Lord Soth em Krynn, o Castelo Dargaard. A cigana também alertara o grupo da presença de 13 Banshees, que todas as noites cantavam para Soth a sua maldita história, lembrando-o eternamente de seus crimes e maldições. A incursão ao castelo deveria ser feita na luz do dia, pois nessa hora tais seres estariam mais fracos e incapazes de lançar seu grito mortal. Além disso, Soth contava com a companhia de seus 13 cavaleiros mortos-vivos, que haviam lhe servido em vida e agora faziam a guarda do castelo.

A presença do mitológico dragão azul de Kitiara antes gerava medo e desconfiança do que certeza de vitória. Aquela formidável besta havia matado milhares de homens e mulheres em Krynn e somente aceitou colaborar com esse bando de forasteiros movida por um único desejo: vingança contra Lord Soth, o traidor de sua senhora!!! Além disso, Skie (ou Khellendros, como exigiu ser chamado) estava cego e algum tipo de feitiço o impedia de se aproximar do Forte Nedragaard. Será que o Cavaleiro da Rosa Negra havia se preparado para este encontro? Como poderia ele saber que o fiel servo de Kitiara viria em sua perseguição, nesse mundo perdido de brumas e sofrimento? Sem refletir sobre essas questões sem resposta, o grupo iniciou a invasão da fortaleza, enquanto o enorme dragão esperava ali fora, prometendo responder a um chamado de Beren.

Após vasculharem algumas galerias no andar térreo do prédio, o grupo encontra um grande salão. Lothar acende tochas nas paredes com um feitiço, providenciando a iluminação necessária. A sala é alta e espaçosa, mas tomada por um aspecto de abandono. Uma imagem gravada numa fina tapeçaria se distingue em meio a outros enfeites que adornam o ambiente: um imponente dragão de cinco cabeças. Logo em seguida, o som de algo metálico arrastando-se toma o salão. O som parece vir de duas escadarias localizadas nas laterais da ampla peça, que serviam de acesso ao andar superior. Subitamente, surgem 2 Guerreiros-Esqueletos vestindo pesadas armaduras e carregando espadas enferrujadas. Eles perguntam - Quem está aí? - diante de respostas múltiplas e desconexas, os mortos-vivos partem para cima do grupo.

A luta foi brutal: Dimitre subiu alguns degraus e bloqueou a passagem de um dos oponentes. Beren avançou sobre o outro, na escadaria oposta. Lothar sacou frascos de água benta e atirou-os sobre um dos esqueletos. No mesmo instante Capsoniwon corria pelo flanco e lançava sua Teia Mágica, deixando imobilizado o esqueleto que duelava com Dimitre. Mas as criaturas não se entregavam! Lutavam ferozmente contra múltiplos atacantes como se estivessem defendendo algum tesouro ou talvez o que restava de sua honra. Os golpes se sucediam e os cavaleiros não demonstravam nenhum cansaço ou exitação. Depois de muito esforço por parte dos aventureiros, os guardas de Soth tombaram pela última vez. A água consagrada por Lothar dissolvia as armaduras e os ossos daquelas criaturas horrendas lentamente, enquanto os companheiros se refaziam daquele encontro sobrenatural...

Após a batalha, o grupo buscou esconder-se rapidamente. O barulho da luta poderia ter alertado os demais guardas sobre a presença de instrusos. Os companheiros correram para o outro extremo da sala e arrombaram uma porta. Descobriram uma ferraria, repleta de armas e armaduras esquecidas pelo tempo e cobertas de ferrugem. Num exame minucioso, Beren descobriu algumas peças bem conservadas: um elmo de guerra, um escudo médio e uma espada curta. Por um breve momento os guerreiros experimentaram os itens e se prepararam para um novo assalto. A jornada deveria prosseguir!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Na Companhia de Skie

"O grande dragão azul ainda busca pelo espírito de sua ama
E também espera a vingança contra o Cavaleiro Sombrio
Que traiu sua senhora e o arrastou junto no caminho das névoas
Em algum lugar, esse esplendido animal também vive seu martírio..."


Thynnus repetia os últimos 4 versos do Conto da Dama Azul sem parar, procurando algum sentido oculto naquelas palavras. - É isso!!! - exclamou o elfo - O dragão de Kitiara está em Sithicus!!! Vamos procurá-lo e oferecer-lhe a vingança contra Lord Soth - Tudo parecia se encaixar agora. Com um aliado como Skie, até mesmo o Cavaleiro da Rosa Negra deveria respeitar aqueles viajantes ousados. Mas como encontrar a formidável besta reptiliana? O grupo resolveu seguir as indicações do ferreiro Amorien...

Abandonar a ferraria em Har-Thelen seria o mais sábio a fazer na quele momento! O grupo saiu rapidamente da casa depois do último encontro com Thomas Malek. Correram para o porto e lá encontraram uma ampla balsa aportada. Ao se aproximarem, reconheceram o capitão da embarcação: era o homem que os havia levado até Veidrava, 1 semana antes. Ele ainda mantinha aquele mesmo sorriso de deboche e alegria fútil no rosto e pela movimentação no porto, estava de partida. O grupo se pôs a negociar com o homem, que diante de uma vultosa oferta em ouro, aceitou levá-los até as Montanhas Desaparecidas em 2 dias. Para evitar mais problemas com as autoridades locais, resolveram partir imediatamente.

O barco viajou calmamente pelo rio Kremlim, fazendo somente uma parada na cidade de Hroth para se reabastecer. Chegando no sopé das Montanhas Desaparecidas, uma nova oferta foi feita ao capitão para que ele aguardasse o grupo por mais 2 dias. Mesmo resmungando algo em invídio, o homem aceitou. O viajantes então se prepararam para uma escalada árdua e perigosa pelo caminho traçado no mapa do ferreiro. Foi um dia todo de escalada. As montarias estavam exaustas. Beren sacou a corneta de ouro que havia conseguido em Tallah, a cidade dos anões. O elfo sobrou ela a plenos pulmões. Após alguns segundos ouviu-se um rugido que tremeu todo o solo próximo aos aventureiros, como se a própria montanha tivesse gritado...era o grito de Skie.

Thynnus e Raistlin acharam alguns restos de bois da montanha mortos há cerca de 1 mês. Se o dragão estava naquela região, certamente deixaria marcas de suas refeições. A caminhada continuou e o ranger conseguiu laçar 2 bois das montanhas, que serviriam de oferenda caso o dragão fosse realmente encontrado. Apesar das intempéries locais, os animais se mostravam saudáveis e ainda novos. O dragão apreciaria sua carne, com certeza...

No cair da noite, o grupo chegou até uma ampla caverna, de onde parecia que os rugidos haviam se originado. Lothar e Dimitre carregavam tochas e o frio era intenso naquelas altitudes extremas. O chão estava repleto de carcaças, ossos e restos de armas e armaduras. Um voz grave, como se vinda das profundezas do Abismo, soou forte e gelada naquela caverna:

- Quem se aproxima? Quem ousa entrar em meu refúgio?

- Somos viajantes de outros mundos, como você! - retrucou Lothar

- Aproximem-se devagar, mamíferos...se vieram atrás de algum tesouro, nada acharão! Se vieram caçar-me, a própria destruição irão encontrar!

Ao olharem para aquele réptil gigantesco enroscado a seu próprio corpo, os companheiros notaram que seus olhos estavam brancos e sem pupilas...talvez o dragão estivesse cego! Além disso, Skie parecia bastante fraco. Talvez recém estivesse acordando de sua hibernação.

- Trouxemos comida para você, como um presente - falou Thynnus, pausadamente.

- Vieram aqui me adorar então? Hahahaha - riu com ironia, a besta, enquanto sentia o cheio dos animais que lhe eram oferecidos. Com uma mordida, o dragão azul abocanhou um boi inteiro, que foi estraçalhado em algumas mastigadas. O outro boi logo também encontrou seu fim nas presas do réptil faminto.

- Sabemos quem você é, Skie! Podemos lhe ajudar em sua busca - falou Rastlin, com audácia. O animal respondeu com mais uma gargalhada, enquanto mastigava o segundo boi.

- Digam por que vieram aqui, enquanto ainda tenho paciência para com visitas sem importância!

- Estamos confrontando Lord Soth. Podemos lhe conceder a vingança que você tanto espera contra o traidor de sua Senhora. - respondeu Dimitre, sem hesitação.

- Vocês, me concederem alguma vingança?!!! Um bando de seres insignificantes?

O silêncio preencheu a caverna por algum tempo, enquanto o dragão terminava sua refeição. Os companheiros se entreolhavam, vendo que talvez nunca estiveram tão próximos da morte como naquele momento, naquele lugar...

- Estou perdendo a minha visão desde que cheguei nesse maldito lugar. E não posso me aproximar do forte de Soth. Como vocês o confrontarão? Como esperam destruir Lord Soth de Dargaard, seu bando de tolos?

- Há uma profecia! O Cavaleiro da Rosa Negra só pode ser destruído se a sentença for cumprida...pela sua própria espada! - retrucou o meio-vistani, como se tirasse um peso enorme de suas costas.

- Ahh sim! A punição da Ordem de Solamnia...é possível.

- Eu me proponho a ser seus olhos nesse mundo, Skie! Confie em mim eu eu lhe oferecerei a vingança contra Lord Soth - completou Beren.

- Meu nome é Khellendros! Jamais me chamem de Skie novamente...Espero que vocês tenham um plano, aventureiros. Já vi Soth destruir centenas de homens corajosos sem sequer sacar a espada.

- Confie em mim e meus companheiros, Khellendros. Essa é a única forma de todos nós sairmos desse mundo.

- Eu preciso de 2 dias para me recuperar. Vocês podem seguir viagem. Nos encontramos no caminho...

- Se você permitir, eu ficarei aqui e lhe guiarei, Khellendros. Não temos pressa!

Os aventureiros sairam do covil do magnífico réptil suspirando com alívio. Eles acamparam em outra gruta e nos dias que se seguiram, mais bois foram oferecidos ao dragão. Uma aliança parecia ter sido selada naquela imensidão gelada. No último dos dias o grupo iniciou a descida até o barco, torcendo para que a ganância do capitão por ouro estrangeiro fosse maior que seus compromissos comerciais na Invídia. E lá estava a embarcação, lançando-se de volta ao rio. O grupo fez sinais para o barco parar e logo alcançaram-no na margem. Após ouvirem as reclamações do homem sobre o acordo, um som altíssimo rompeu a cena, fazendo o barco balançar com força extraordinária. O dragão azul surgiu no alto do céu, trazendo Beren em uma das garras dianteiras. O capitão e toda a tripulação se atiraram desesperadamente no rio, tentando salvar suas vidas. Não se viu mais aqueles pobres coitados que tentavam fugir de um suposto ataque draconiano.

O barco seguiu ao norte, comandado por Dimitre. Em 1 dia o grupo chegou até a estrada para a fortaleza Nedragaard.

Uma Misteriosa Visita...

- Armorien, Armorien! Abra essa porta! A tempestade está começando...

Batidas desesperadas na porta e gritos de um homem romperam aquele momento de contemplação do grupo diante da armadura da Dama Azul. Alguém que conhecia o ferreiro batia forte na porta de entrada, tentando escapar da chuva. Beren e Dimitre se aproximaram da porta. O elfo foi espiar por uma fresta, enquanto o meio-vistani sacava sua espada e colocava-se ao lado da entrada. O elfo enxergou um humano mediano, cerca de quarenta e tantos anos, vestido de forma distinta e usando um grande chapeu. O homem se encolhia da chuva e já demonstrava impaciência com a ausência de resposta ao seu chamado. Quando o homem ensaiava um toque mais violento, Beren abriu a porta. Os demais se esconderam no interior da ferraria.

- Olá...Armorien não está! Ele não aparece aqui há algum tempo...

O homem estranhou aquele sotaque carregado. Certamente aquele elfo não era nativo de Har-Thelen ou mesmo de Sithicus. Preocupado com a chuva, o homem se apresentou rapidamente, esperando um convite para entrar.

- Eu sou Thomas Malek, da Baróvia. Amigo de longa data de Armorien. E você, elfo?

- Sou Jacob. Trabalho para Armorien - mentiu o elfo.

O homem foi entrando sem paciência, pois viu que parecia se tratar de um aprendiz ou servo. Ele retirou a pesada capa e entregou a Beren. Enquanto se arrumava, perguntou:

- Você sabe onde anda Armorien? Marquei esse encontro há meses. Ele tinha uma encomenda para me entregar...

- Não sei onde ele está agora! Quando eu voltei da minha busca pelas escamas, já estava tudo meio abandonado, assim como a propria cidade - respondeu o elfo.

- 'Escamas'? O baroviano arregalou os olhos com surpresa.

- Sim! Armorien me enviou para pegá-las ao sul - Beren puxou um punhado que havia guardado na mochila. O homem parecia tentar esconder o ar maravilhado que lhe tomava ao ver as escamas de dragão azul. No entanto, Thomas também sentia desconfiança em relação àquele estranho elfo, do qual nunca ouviu falar por parte do ferreiro...

Beren também não podia controlar a curiosidade: por que um homem aparentemente tão distinto viajara tão longe para encontrar-se com um simples ferreiro? Não haveria ferreiros qualificados no reino da Baróvia?

- Eu preciso ir! Voltarei amanhã para ver se encontro Armorien. Caso ele apareça antes disso, diga que Thomas Malek da Baróvia procura por ele com urgência! - O sujeito saiu apressadamente, quase esquecendo a capa dependurada num gancho, ao lado da porta. Enquanto Beren abria a porta para o misterioso visitante, ele percebeu que alguns guardas da cidade estavam descendo a rua, batendo de porta em porta atrás dos bandidos que soltaram o condenado naquela tarde.

O grupo saiu aliviado de seus escoderijos. Todos mostravam desconfiança em relação ao visitante baroviano. Mas havia pouco tempo para pensar: alguns instantes depois, a guarda já batia na porta da ferraria, forçando a porta! os aventureiros sacaram suas armas e se prepararam para o inevitável choque. Assim que os guardas abriram a porta a pancadas, o grupo se lançou sobre eles. Era um pequeno contingente de 5 oficiais, armados com lanças e vestindo pequenas placas de metal. Capsoniwon desferiu setas sobre um deles, que caiu abatido no mesmo instante. Thynnus também atirava com seu arco, enquanto Dimitre e Beren rechaçavam os demais a golpes de espada. Lothar lançou um faixo de luz que cegou os soldados que tentavam desesperadamente fugir do local. raistlin permanecia magicamente oculto, esperando o resultado provável da batalha. Em pouco tempo, os soldados que não morreram em combate foram feitos prisioneiros. Dimitre e Lothar arrastaram-nos para o andar de cima da ferraria.

Os sinais de luta já não eram evidentes quando Beren se aproximava da porta para fechá-la. Foi quando viu novamente o nobre mensageiro da Baróvia caminhando em direção a ferraria. O homem já estava quase na porta quando Beren virou-se para alertar os companheiros a se esconderem denovo...

O semblante do homem não demonstrava especial desconfiança naquele momento e ele já foi entrando no estabelecimento sem pedir qualquer licença. Mas quando viu aquele bando de pessoas dentro da ferraria, parou e segurou o cabo da espada. Mas o grupo já havia cercado-o...

- Vocês são ladrões? Eu tenho algum ouro, mas me deixem vivo...

- Cale-se, homem! Quem faz as perguntas aqui somos nós! - brandiu Capsoniwon com impaciência, enquanto sacava a espada de forma ameaçadora.

- Eu sou um enviado do conde Strahd von Zarovich...acreditem! É melhor me deixarem em paz...

- Não vamos lhe fazer mal, forasteiro...apenas diga o que você quer com o ferreiro - completou Lothar.

- Sou apenas um enviado de meu mestre! O conde não permite que eu revele seus interesses a ninguém. Me deixem seguir meu caminho e ninguém acabará ferido - o homem falava enquanto recuava em direção a porta, com muito receio. O grupo silenciosamente parecia concordar que seria melhor deixar esse sujeito partir sem problemas.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Conto da Dama Azul

A tempestade que se aproximava tremia os alicerces da velha ferraria élfica naquela noite úmida. A cada estrondo no céu de Sithicus, a humilde casa de madeira balançava-se de cima a baixo. Mas os viajantes de Ankara e o cigano Dimitre pouco se importavam com isso. Eles vasculhavam a loja do ferreiro como ladrões apressados. Beren, que trabalhou como aprediz em uma ferraria de sua vila natal, observava com cuidado a forja e as ferramentas do homem que um dia trabalhara ali. Parecia que a forja não era acesa há semanas...

Após algumas tentativas, o grupo notou que havia uma espécie de fundo falso sob a forja. Os guerreiros fizeram extrema força para remover a enorme peça de metal de seu lugar. Isso acabou revelando a existência de uma pequena lajota removível. No fundo falso havia um baú trancado. Abrindo a arca a golpes de espada, algo extraordinário revelou-se ao grupo: dentro dela foi encontrada uma pesada e refinada armadura de metal! Junto a ela, anotações que possivelmente pertenciam ao ferreiro. Raistlin, analisando os escritos, encontrou uma dedicatória do autor logo nas primeiras páginas:

"Ao amigo Amorien, tudo que consegui encontrar sobre a lendária Dama Azul, Kitiara Uth Matar, e seus feitos. Recolhi essas histórias e versos entre os contos dos homens de Krynn que por aqui passaram nesse últimos 35 anos. Ass. Terban, de Baróvia.”

Seguia-se a dedicatória o Conto da Dama Azul

"Kitiara Uth Matar, a Dama Azul, Senhora dos Dragões
Filha do cavaleiro Gregor Uth Matar e Rosemun Aelan
Kitiara do sorriso arqueado, como na infância feliz
Tinha um olhar desafiador e a chama da audácia no peito

Linda e forte, muito cedo ele teve ambições
E logo deixou a pobre cidadela de Solace
Mas tornou-se uma devota das sombras
Sua sede de poder não teve mais limites

Tão logo tornou-se a comandante dos Dragões Azuis
A destruição ela espalhou por toda distante Ansalon
Ao lado do sombrio Cavaleiro da Rosa Negra
Seria a serva preferida de Takhisis, a Deusa da Escuridão

Seu fiel companheiro era Skie, o jovem dragão azul
Forte como uma montanha e veloz como um raio
Essa besta lutou furiosamente ao lado de sua senhora
E acompanhou-a em todas as suas conquistas por Krynn

Mas quando seu louco meio-irmão Raistlin Majeré
Tentou desafiar a grandiosa deusa dos dragões da noite
A Dama Azul prontamente correu ao socorro de Takhisis
E buscou impedir a qualquer custo os planos do mago.

Com a horda de dragões, a Dama Azul arrasou a cidade de Palanthas
Atravessou o bosque maldito e alcanço a Torre da Alta Feitiçaria
Mas lá a guerreira encontrou seu fim, pelas mãos do mago Dalamar.
Sob os olhos de seu antigo companheiro e amante, Tanis, o meio-elfo.

Ela foi traída, na hora mais escura, pelo Cavaleiro da Rosa Negra
Que a abandonou à própria sorte, no covil de seus inimigos
E logo depois, lá ele apareceu, para reclamar seu corpo sem vida
Um traição fria, como o toque desumano desse espectro andante.

O Cavaleiro caído levou seu corpo inerte para o forte Dargaard
Mas antes disso, já havia enviado seu servo fantasma, Caradoc
Para o Abismo, em busca da alma da Dama Azul, assim que ela morresse
O fantasma deveria aprisionar seu espírito numa jóia negra e leva-la ao forte.

Tendo o corpo da Dama Azul e seu espírito preso na jóia
O Cavaleiro das Sombras poderia trazê-la dos mortos
Para ao seu lado governar a escuridão pela eternidade
E dividir o fardo de danação ao qual foi condenado pelos deuses

Mas alguma coisa no vil plano do Cavaleiro não funcionou
Pois pelas mesmas mãos de deuses grandiosos a jóia se perdeu
E nunca mais foi encontrada no mundo dos homens e dos dragões
Só o fantasma Caradoc sabe qual foi seu fim, no infernal Abismo ou além

O grande dragão azul ainda busca pelo espírito de sua ama
E também espera a vingança contra o Cavaleiro Sombrio
Que traiu sua senhora e o arrastou junto no caminho das névoas
Em algum lugar, esse esplendido animal também vive seu martírio..."

A carta data de 10 de Deepkolt. Junto desses escritos encontrava-se um mapa das Montanhas Desaparecidas - uma região remota localizada no sudoeste de Sithicus - e desenhos de armaduras pesadas, modelos femininas e algumas instruções para fundir escamas de dragão ao metal. As anotações ainda falavam a respeito do covil de um dragão azul, que teria aparecido em Sithicus há cerca de 2 meses. No final do documento eram listadas possíveis datas para troca de pele do animal. Segundo o diário, a troca de pele era seguida por um período de hibernação que durava 1 mês. Alguns indícios apontavam que a armadura teria sido encomedada por Azrael, mas o ferreiro jamais realizou a entrega. Possivelmente ele esqueceu-se de onde havia escondido a peça em que trabalhava.

A armadura tinha traços femininos e depois de alguns ajustes, serviu muito bem em Capsoniwon. Agora a arqueira até parecia-se com uma imponente general de algum exército de terras distantes...talvez assim se parecesse Kitiara!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De volta a Har-Thelen

A marcha de volta seria longa e difícil: pelo menos 3 dias cavalgando a sudoeste, devolta a Fumewood e depois em direção a cidade de Har-Thelen. E o inverno de Sithicus continuava implacável.

O grupo seguiu viagem sem encontrar mais rastros dos Elfos Selvagens. Parecia que a calma e a ponderação estavam de volta, guiando os passos dos aventureiros. Sem problemas, eles atravessaram Fumewood, evitando sempre a vila dos Kender vampiros, a maldita Kendralind. Mas isso não era muito difícil, pois essas criaturas colocavam sinais bem visíveis de que a aproximação ao seu território era proibida: cabeças de viajantes fincadas em lanças...

Quase nos limites de Fumewood, o grupo foi surpreendido por uma cena incomum: ao longe era possível avistar uma guarnição de soldados avançando na mata. Dimitre observou com cuidado e percebeu que os 4 cavaleiros que aparentemente lideravam o bando carregavam discretas insígnias do exército da Invídia. Os soldados que avançavam pela mata eram enormes e não poderiam ser humanos. talvez Ogros ou Meio-Gigantes. Ao total, o bando era formado por uns 10 Ogros e 4 cavaleiros. Sabendo do plano de Malocchio Aderre - lorde negro da Invídia - em exterminar todo e qualquer vistani que obstruir seus planos, Dimitre não teve dúvida de que eles estavam atrás de Madame Magda e seus Andarilhos...

Os companheiros conversaram e traçaram, um plano: tentariam convencer os soldados a investir contra o forte Nedragaard, atacando o próprio Lord Soth. Era um plano ousado, sem dúvida. mas se os homens de Malocchio Aderre estavam entrando em Sithicus sem autorização, já estavam desafiando o Cavaleiro da Rosa Negra. Possivelmente os boatos de que Lord Soth estava sumido há meses; talvez morto, já haviam se espalhado para além das fronteiras do domínio.

Beren e Raistlin seguiram em direção aos soldados, em quanto os demais avançavam a espreita pela mata. O mago elfo tornou-se invisível. Os 2 se aproximaram de um dos cavaleiros que havia ficado um pouco atrás do comboio.

- Olá...vocês são inimigos do lorde negro? Perguntou Beren.

O homem surpreso olhou para o elfo e depois soltou um sorriso desdenhado-o.
- Quem é você? Você está nos seguindo? Como ousa?

- Acho que lutamos contra o mesmo inimigo! Podemos unir forças contra Lord Soth e...

- Os homens da Invídia não precisam de ajuda para eliminar um bando de cães sarnentos num reino abandonado. Desapareça daqui elfo, ou meus homens vão ter carne fresca no jantar! Interrompeu com grosseria o cavaleiro invídio.

Enquanto isso, um dos outros cavaleiros começou a chamar o invidiano que dialogava com Beren. Não obtendo resposta imediata, começou a cavalgar em direção ao companheiro, trazendo consigo 2 guardas Ogros. Beren prendeu a respiração por alguns instantes e pensou. Finalmente tirou a mão do cabo da espada e deu meia volta, escondendo-se na mata que margeava o rio Musarde.

O plano falhara...esses mercenário certamente não queriam confrontar Soth. Madame Magda corria perigo. Mas Beren e Raistlin não mostraram nenhuma compaixão com o destino reservado aos ciganos. Os 2 reagruparam-se e foram evasivos sobre o diálogo com os mercenários da Invídia. Parecia que envergonhavam-se de suas virtudes como diplomatas. Após alguns protestos por parte de Lothar, que achou os companheiros extremamente precipitados e sem qualquer tato para a situação, o assunto foi encerrado com um silêncio perturbador.

Seguindo viagem para o sul, o grupo chegou a Har-Thelen e parecia que grande agitação tomava a cidade élfica. Um homem seria enforcado em instantes...A aristocracia élfica estava reunida ao redor do condenado, enquanto a população se espremia para observar, embora os elfos demonstrassem não entender nada daquilo que ocorria. Eles nem mesmo lembravam a razão da execução ou o nome do condenado...

Subitamente, alguém gritou: - Ajudem-me - na língua de Ashtun

Não era possível! Aquele homem condenado a morte também seria um viajante de Ankara, perdido nessas terras sombrias? O grupo se lançou furiosamente em busca do condenado. Enfrentando a guarda da cidade, os aventureiros salvaram o homem e perceberam que se tratava de um dos sacerdotes da Marbínia que também fora transportado para a Terra das Brumas. O grupo refugiou-se no boticário da elfa e após interrogar aquele coitado, Beren executou-o a sangue frio. No momento em que cortou a garganta do indefeso sacerdote, Beren viu-se atordoado com uma visão sobrenatural: ele enxergou seu próprio rosto no corpo da vítima; viu sua própria cabeça caindo sem vida no chão...a visão durou apenas alguns instantes, mas um sopro gelado parece ter percorrido todo o corpo do elfo naquele intervalo.

A noite caía novamente em Sithicus. Uma grande tempestade se avizinhava e os viajantes procuraram abrigo em um ferraria que se encontrava na frente do boticário. O estabelecimento estava abandonado, assim como a maioria das casas comerciais de Har-Thelen. Uma repentina culpa tomou os corações de todos, enquanto reviravam a ferraria: será que aquela horda de Ogros da Invídia teria massacrado os ciganos na floresta? Teriam poupado pelo menos Madame Magda? E as ordens de Lord Soth para que ninguém ferisse os ciganos? Esse estrangeiros ignoravam a autoridade do Cavaleiro da Rosa Negra? Teriam eles aliados em Sithicus? Bem, talvez tudo isso não lhes dissesse mais respeito...

No Covil da Hydra


Os viajantes passaram mais algumas horas marchando em direção ao norte, na região mais isolada, indicada pelos Elfos Selvagens como o local onde se encontrava o covil da Hydra. Não se podia enxergar os limites da estrada e os desfiladeiros tornavam-se cada vez mais profundos. O tempo parecia mais fechado e a noite já se avizinhava no horizonte. Os aventureiros mal sentiam seus pés enquanto andavam por entre a neve. Uma ponte partida era vista à distância. Do outro lado dela, uma série de cavernas se mostrava na encosta de uma grande montanha. Raistlin se aproximou dos limites da ponte e observou calmamente a paisagem. O feiticeiro tentava localizar algum ramo da erva no meio daquela imensidão gelada. Os demais também seguiam naquela direção, até que ouviram um estrondo seco, de algo enorme rastejando e derrubando tudo no caminho.

Um criatura monstruosa emergiu das rochas, ao lado da estrada, causando um desabamento. O ser reptiliano tinha 12 cabeças e se arrastava pesadamente sobre 4 patas. O grupo, surpreendido pelo tamanho do animal, buscou cercá-lo por todos os lados, empurrando-o contra o sólido paredão que se colocava às suas costas. Dimitre partiu em carga, montado em seu cavalo. Capsoniwon iniciou uma chuva de flechas sobre a grossa carapaça do enorme réptil. Thynnus sacou suas 2 espadas e desferiu golpes em um dos flancos do monstro. Raistlin lançou uma saraivada de Dardos Místicos, enquanto Lothar iniciava suas preces para convocar um relâmpago sobre o animal. A luta foi insana, pois cada vez que as cabeças da besta eram cortadas, outras brotavam em seu lugar. Era preciso atear fogo nas feridas para impedir o animal de se multiplicar infinitamente. A luta começou a tomar lugar ao lado de um desfiladeiro. Capsoniwon, valendo-se dos poderes de sua capa, escalou um paredão ao lado do monstro e desferiu nova chuva de setas sobre seu corpo. Dimitre ceifava as cabeças da Hydra a golpes de espada, enquanto seu cavalo se mantinha destemidamente no alcance daquelas garras. Finalmente a criatura tombou sem vida. Raistlin então lançou uma bola de Fogo sobre aquele imenso cadáver reptiliano, que acabou consumido pelas chamas. Os aventureiros mais uma vez suspiraram com alívio: fora alguns ferimentos, estavam todos vivos e seguros ao final da batalha.

Após a batalha, Raistlin criou um Servo Invisível com o intuito de explorar as cavernas que existiam do outro lado da ponte destruída. Talvez a erva pudesse ser encontrada ali; ou seria mera curiosidade do mago? O servo mágico entrou nas cavernas e encontrou pilhas de ossos humanóides. Um deles chamou a atenção do mago, pois junto dele estava um medalhão dourado com um orifício vazio no centro. Provavelmente uma jóia ou outra espécie de ornamento que se perdera encaixava-se ali. O mago ordenou que o servo trouxesse até ele alguns ossos daquele corpo em particular e o medalhão. Ele voltou ao grupo e sentou-se para poder se concentrar e lançar feitiços sobre aqueles objetos.

Enquanto o mago se concentrava, uma imagem formou-se na sua mente: ele se viu andando em um lugar incrivelmente quente; uma espécie de deserto infernal. Estava contando passos em voz alta, até avistar um templo de pedras. Ele carregava uma joía nas mãos. Uma jóia idêntica àquela que Dimitre tinha recebido de Madame Magda! De repente, essa vivência foi interrompida por outra imagem: agora ele estava finamente vestido, andando em um corredor iluminado por tochas. Em suas roupas está bordado o emblema de uma Rosa Vermelha. Raistlin se viu entrando em um quarto, onde uma linda mulher está dormindo ao lado de um berço. Ele carrega um punhal em uma das mãos. Ele se aproxima da mulher. Ele está sacando o punhal e apontando para o corpo da indefesa dama. Ele ergue o punhal no ar...Ele vai...Raistlin acorda num sopetão, soltando um grito! Mal consegue respirar. E um nome se repete em sua mente: Caradoc

Após recuperar-se da surreal experiência de reviver mentalmente os últimos instantes de vida daquele corpo, o mago reiniciava suas buscas pela planta mágica Oiolosse. Enquanto isso, os demais montavam acampamento em uma galeria que encontraram perto do covil da Hydra. Depois de algumas horas procurando, o elfo finalmente encontrou um pequeno ramo que vigorosamente lutava contra a neve para poder brotar. Ele crescia nas pedras, próximas ao covil da Hydra, conforme havia dito a cigana. Tendo colhido a miraculosa planta, puseram-se a preparar o corpo de Beren para o bendito ritual. O corpo do elfo havia se conservado bem naquele frio cortante, e na manhã seguinte ele acabou por ser ressuscitado! Mais um milagre acontecera nesse reino de escuridão. Por um instante, um novo sopro de esperança reanimou os cansados corações dos companheiros...

Rumo às Montanhas de Ferro


Beren estava morto!

O preço pago por derrotar Azrael, o braço direito de Lord Soth, foi demasiado caro! Mas os viajantes nunca foram muito dados às lamentações: mais desafios deveriam ser superados e a hora já era avançada. Os aventureiros pegaram o corpo do anão Azrael e o levaram até uma pilha de madeira que havia sido preparada por Thynnus e Dimitre. Lothar tomou algumas precauções - como circular a pira com sal-grosso e banhar o rosto do cadáver em água benta - para que o corpo do anão não pudesse ser reanimado como morto-vivo. Depois de embebido em óleo, foi ateado fogo sobre o que restara de Azrael Dak. Assistindo àquela pira, o grupo já traçava plano de como conseguir mais Oiolosse, a erva que foi responsável pela ressurreição de Capsoniwon. Antes disso, porém, Thynnus sofreu uma profunda queimadura na mão ao tentar empunhar o machado de Azrael. Aquela arma, de velocidade e corte sobrenaturais certamente carregava consigo alguma maldição, assim como seu metamorfo proprietário. O machado foi deixado ali mesmo, junto às marcas da batalha.

Tendo consagrado os restos mortais de Azrael, os aventureiros voltaram ao acampamento vistani. Madame Magda foi chamada e um encontro aconteceu naquela madrugada. O grupo informou que Azrael Dak estava morto, mas um dos guerreiros do grupo também havia perecido em combate. A cigana proferiu algumas palavras, como se prestasse alguma homenagem ao espírito do falecido guerreiro e depois manteve-se em silêncio por longos minutos.

- Acho que minha filha Inza está tramando contra os Andarilhos. A morte de Azrael talvez acelere as coisas - disse a calejada líder dos ciganos, com preocupação no olhar.

- Precisamos encontrar mais da erva Oiolosse! Onde podemos encontrá-la? - interrompeu Capsoniwon.

- Ela cresce nas encostas das Montanhas de Ferro, a nordeste de Fumewood, quase na fronteira com a Baróvia. Mas a região é habitada pelos Elfos Selvagens. É um lugar perigoso...

Durante longo tempo o grupo discutiu qual caminho tomar: rumar para o boticário de Kellastra, em Har-Thelen e torcer para que existisse mais da procurada erva nos estoques da loja; ou seguir a nordeste, rumo às Montanhas de Ferro?

Madame Magda foi deixada com suas próprias preocupações e o grupo se reuniu mais uma vez para debater seus próximos passos. Após se convencerem de que a viagem até as Montanhas de Ferro seria o caminho com mais chances de sucesso, os aventureiros descansaram e na manhã seguinte se prepararam para a longa viagem. O corpo de Beren foi amarrado em um dos cavalos, que seguia sendo puxado por Thynnus. O inverno atingia seu auge, e a medida que a marcha progredia ao norte, mais o clima se mostrava inclemente. A neve havia coberto grande parte das estradas e o vento cortava as entranhas dos viajantes, com seu sopro gelado e constante...Durante 2 dias o grupo cavalgou em direção às Montanhas de Ferro. Até agora, nenhum sinal das tribos dos Elfos Selvagens havia sido encontrado, a não ser pequenos restos de fogueira e carcaças de animais abatidos por seus caçadores.

A marcha se estendeu até o fim da tarde do segundo dia, quando rastros de animais enormes foram encontrados. Raistlin, com a ajuda dos poderes de seu manto mágico, reconheceu tratar-se de uma Hydra. Thynnus encontrou mais rastros próximo a carcaças de renas. mas eram de outro animal...provavelmente algum carniçeiro que seguia a Hydra e coimia os restos de suas refeições. Enquanto faziam o reconhecimento do terro, Dimitre percebeu ruídos numa das encostas que contornavam a castigada estrada. Se aproximando, o cigano pôde ver que se tratava de um pequeno bando de Elfos Selvagens; talvez uns 5 ou 6. Provavelmente estavam seguindo o grupo há algum tempo, mas acabaram deixando-se perceber. Aparentemente, quem liderava o bando era uma mulher velha e corpulenta. Ela dava ordens aos outros e trazia na pele algumas pinturas com padrões mais variados que os demais.

Com bastante cuidado, um primeiro contato foi tentado. Os viajantes baixaram suas armas e deixaram uma pequena gema brilhante no chão, recuando logo em seguida. Uma criança foi ordenada pela velha elfa a pegá-la. Em seguida, os selvagens se aproximaram de forma curiosa. Dimitre e Raistlin tentaram articular algumas frases em élfico. Com dificuldade, eles descobriram que estavam próximos ao covil da "Grande Besta" - provavelmente era a Hydra, assegurou Thynnus - e que eles seriam grandes guerreiros se a matassem e depois comessem seu coração. Capsoniwon sentiu náuseas imediatamente. Os selvagens apontaram a direção do covil e se retiraram rapidamente, desaparecendo na neve das montanhas como fantasmas.

Um cheiro pútrefe encheu o ar gelado das montanhas. Odor de carniça; de algum animal grande morto há poucos dias, pensaram os viajantes. De repente, de uma das fendas no enorme paredão rochoso que acompanhava a estrada surgiu uma Besta Morta-Viva, rugindo ferozmente sobre o grupo. Espadas sacadas, flechas incendiárias lançadas e uma luta alucinada foi o que se viu naquela paisagem morta. A criatura parecia não recuar diante do assalto simultâneo de 5 oponentes, cada um atacando de um lado! Com muito esforço e bravura, aquela aberração da noite acabou abatida, graças aos feitiços de Raistlin e aos golpes dos guerreiros do grupo. Certamente aquela criatura sobrevivia naquela região tão remota comendo as carniças das vítimas da Hydra. Sua carcaça fétida foi deixada ali, para que a neve lentamente a consumisse. O covil da Hydra era a próxima parada...

A batalha contra Azrael

Cheio de certeza e coragem, o grupo saiu com tochas e armas em punho pela estrada, seguindo os rastros do carro-de-guerra e o cheiro de enxofre que impregnava a mata. Sem andar muito, logo se viu do alto de uma colina, o anão e sua biga, puxada por dois animais. A lua negra nascia bem atrás da colina e Azrael soltou um grito animalesco ao ver os estrangeiros que ousavam desafiar o senescal de Lord Soth de Nedragaard.

Azrael desceu enfurecido a colina, com seu carro-de-guerra em alta velocidade. Os companheiros se separaram pela estrada, buscando se dividir e assim distrair o anão de vários pontos. diferentes. Os arqueiros iniciaram uma saraivada de flechas sobre o carro do oponente. Raistlin, que se esquivara por trás de grandes carvalhos, iniciou a conjuração de um feitiço. Enquanto isso, Beren e Dimitre permaneciam no centro da estrada, obstruindo o caminho do anão e seu carro. Subitamente, o carro-de-guerra começou a levitar e Azrael foi obrigado a abandoná-lo. O anão empunhava um machado e lançou-se em carga sobre o grupo. A forma de seu corpo começou a tomar proporções maiores e pêlos surgiam de toda a parte. Seus dentes tornaram-se pontiagudos e seu nariz cresceu de forma proeminente, transformando-se num focinho animalesco.

Azrael Dak começava a assumir a forma de um texugo-gigante no momento quer as lâminas se chocaram. Beren, que já havia se confrontado com criaturas dessa natureza, sabia que apenas as armas feitas de prata ou com alguma forma de encantamento poderiam causar algum mal ao licantropo. O bestial anão acertou dois golpes seguidos em Dimitre com velocidade assustadora. Beren logo também foi ferido pelo machado com um corte que lhe queimava a carne. Os golpes de Dimitre, embora bem colocados, pareciam não afetar profundamente seu oponente, causando apenas arranhões por entre o pêlo e a armadura que adaptava-se magicamente ao novo tamanho de seu portador. Beren valeu-se então de uma adaga mágica que já havia se mostrado útil na luta contra essas bestas metamorfas. O elfo acertou um golpe no flanco do anão-texugo, que soltou um grunido de dor. Mas isso só fez com que a besta fosse tomada por uma fúria ainda mais selvagem e descontrolada, desferindo golpes cada vez mais violentos sobre os dois guerreiros. Quando a luta parecia tornar-se favorável ao grupo, que encurralava o anão-texugo, uma chama escura se manifestou no outro extremo da cena...

Do outro lado da estrada, às costas do grupo e dos combatentes, o cheiro de enxofre tornara-se insuportável, com a aparição de um Cornugon, um demônio voador que vinha em ajuda ao seu mestre e convocador. O demônia trazia nas mãos um chicote flamejante espinhado. Thynnus se colocou em frente ao demônio, tentando impedir seu avanço em direção aos demais combatentes. Mas o elfo foi surpreendido com uma chicotada no braço, que rasgou sua armadura e acabou derrubando uma de suas espadas. Logo em seguida, a abominação cuspiu chamas sobre o ranger, que buscou abrigo nas árvores da mata. Enquanto isso, Azrael já mostrava sinais de cansaço em seu duelo particular com Beren e Dimitre. O meio-vistani desferiu um golpe no machado do anão-licantropo, que foi surpreendentemente desarmado! Beren então acertou-lhe o golpe fatal, derrubando-o e depois cortando-lhe a garganta. Quando os dois guerreiros viraram-se o demônio que já voava sobre eles expeliu uma poderosa descarga elétrica de sua boca infernal. Dimitre, num lance de puro reflexo, se jogou para fora da estrada, sendo parcialmente atingido nas pernas. Já Beren não contou com tamanha sorte: o elfo recebeu a descarga sem nenhuma possibilidade de reação. Seu corpo ferido por intermináveis lutas caía inerte na cena de combate. A morte do companheiro encheu os corações dos aventureiros de fúria e angústia, mais uma vez! Toda aquela dor se traduziu numa carga louca e desesperada sobre o ser demoníaco. Raistlin lançou ataques mágicos, enquanto Lothar, Capsoniwon e Dimitre destroçavam a golpes de lâmina aquele serviçal das profundezas do Abismo. Finalmente, quando o demônio foi vencido, todos puderam respirar com algum alívio. Não restava mais nada: Azrael estava morto, assim como seu demônio e o destemido mas impulsivo Beren...a noite mostrava novamente a sua face mais nebulosa naquela estrada perdida no meio do nada...

domingo, 29 de agosto de 2010

No Acampamento Vistani


Após muito vagar por Fumewood durante aquela noite, o grupo encontrou o acampamento dos Andarilhos. Novamente o clima de tensão com a chegada de Dimitre e seus amigos estrangeiros se espalhava entre os ciganos. A hora era bastante adiantada e Madame Magda provavelmente já dormia. Mesmo assim, Dimitre e Beren insistiram que precisavam vê-la. Os desconfiados vistanis disseram a eles que acampassem por ali que Magda os visitaria em breve. E assim foi: Thynnus abriu o mato e logo preparou uma fogueira. Enquanto os aventureiros preparavam seus lugares para dormir, um latido grave se ouvia por entre as árvores. Beren já sacara suas espadas, buscando intimidar qualquer intruso. Foi quando o vulto que já se avistava entre a úmida mata tomava contornos mais definidos: o cão de Magda se aproximava. Logo atrás, a cigana caminhava delicadamente com uma lamparina e o corvo de estimação no ombro direito:

- Não é preciso temer! Sou eu, Magda...

Sentados ao redor da fogueira, os companheiros ouviam Madame Magda falar de forma ponderada. A cigana primeiramente se desculpou pela desconfiança dos membros de sua tribo. Ele disse que desde o episódio com Azrael e sua filha Inza, os Andarilhos andavam muito desconfortavéis, como se algum grande mal se aproximasse do acampamento. Além disso, a maioria deles achava que a presença de um meio-vistani era sempre um mau presságio. Eles ainda acreditavam que Dimitre poderia ser o Dukkar - um ser destinado a trazer a destruição aos Vistani. Madame Magda achava essas superstições apenas tolices...ela sabia que o Dukkar não havia nascido em Sithicus, mas na Invídia...

O grupo pôs-se então a relatar os acontecimentos no Lago dos Sons. O enigma que ouviram naquela maldita caverna parecia tão obscuro como as névoas que cobriam os campos de Sithicus. Dimitre então repetiu o pequeno soneto à cigana:

A alma torturada volta a descansar
Quando a sentença for cumprida
E uma Rosa Negra irá desabrochar
Mostrando aos forasteiros a saída


Madame Magda respirou lentamente. Pensou por alguns instantes, enquanto os aventureiros discutiam infinitas interpretações daquele pequeno poema.

- A espada! A espada! A sentença de Lorde Soth quando ainda era um mortal foi morrer pela própria espada, por ter quebrado seus votos de cavaleiro! Só pode ser isso...

A explicação da cigana parecia bastante convincente, uma vez que ela conhecia em detalhes a história do Cavaleiro da Rosa Negra. Convencidos de que esse seria o maior desafio que os companheiros encontraram até então, o silêncio encheu o local. Madame Magda desejou boa sorte aos aventureiros e retirou-se delicadamente. Enquanto saía, Beren a interpelou:

- Magda! A jóia que você entregou a Dimitre...o que ela pode fazer? Qual é sua história?

- Quem a encontrou foi Jaspo, caro elfo...ele me pediu para escondê-la e entregar ao seu filho quando ele tivesse se tornado um homem. Ela é a chave para o Lago dos Sons. O que mais você quer saber?

- Eu vi algo enquanto olhava para a jóia...eu vi uma mulher!

- Você viu uma mulher? Uma moça morena com um "sorriso arqueado"?

- Sim! Ela vestia uma pesada armadura azul. Quem é ela? Não seria a tal Kitiara?

- A descrição corresponde a de Kitiara. Mas eu não sei...nunca vi nada nessa jóia além de seu brilho radiante.

- Eu não conheço as lendas de seu mundo, e tampouco os detalhes da vida do Cavaleiro da Rosa Negra, cigana. Mas estou certo de que essa pedra guarda algum segredo!

- Você sabe, elfo... os lordes que vivem aqui na Terra das Brumas são constantemente lembrados de seus crimes e torturados pelas suas lembranças através da ação dos Poderes Sombrios! Talvez isso seja uma manifestação deles. Apenas isso...

A mulher continuou andando com calma, deixando um rastro de mistério e sabedoria em suas palavras. A noite avançava e os aventreiros estavam inquietos. Dimitre, Thynnus e Beren discutiam sobre um ataque ao anão Azrael. Raistlin contemplava a escura lua que se mostrava apenas aqueles que tratam com as ciências obscuras... e o cheiro de enxofre começava a espalhar-se na mata! Os aventureiros descidiram confrontar Azrael e o demônio que ele convocara nesta noite...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A ressurreição de Capsoniwon

Após a sangrenta batalha com os Ghouls, o grupo reuniu-se em torno do corpo de Capsoniwon. Raistlin foi informado que o anão Grimble também havia perecido a pouco, desaparecendo em meio aos escombros da montanha. O frio daquela manhã obrigou os aventureiros a voltarem ao vilarejo, onde alugaram um quarto no Estalajem Lua-Negra. Após horas de conversa e de tratamento dos ferimentos, Raistlin resolveu analisar o punhado de ervas que Lothar havia saqueado no boticário de Kellastra, em Har-Thelen. O feiticeiro ficou surpreso: ali havia um ramo de Kiama, erva considerada capaz de afastar maus espíritos e agouros malignos; e a raríssima Oiolosse, um ramo seco com propriedades mágicas, capaz de trazer de volta a vida um elfo morto há uma semana! Os companheiros se regozijaram diante da notícia. Mas para que a erva tivesse efeito sobre o corpo sem vida de Capsoniwon, um conjunto de preparativos deveria ser feito. Aqueceu-se água e o cadáver foi colocado em uma enorme banheira. As ervas foram preparadas e colocadas na água quente. O corpo foi submerso durante 3 horas. Como que por uma milagre, nessa terra desolada, o rosto submerso de Capsoniwon começou a retorcer-se em busca de ar; seus braços se balançavam e de repente, num sopro de força, a elfa emergiu viva novamente! A cena comoveu a todos, especialmente Beren, que imediatamente se jogou sobre a irmã, quebrando a banheira com seu peso excessivo.

Na ocasião da ressurreição de Capsoniwon, Silvenne - a princesa de Ashtun - mantinha aquele olhar perdido e perturbado. Havia dias que ela estava sendo perseguida por pesadelos terríveis e imagens aterrorizadoras. A Terra das Brumas havia transformado aquela mulher de forma irreversível. Beren sentia-se responável por aquela pobre mulher, por motivos desconhecidos. O elfo não permitia que os amigos ficassem as sós com ele e tampouco se aproximassem demasiadamente. Raistlin, aproveitando-se da distração dos companheiros com a volta à vida de Capsoniwon, lançou um encantamento sobre Silvenne, buscando por meio de magia abortar a criatura maligna que ela carregava no ventre. Um grito medonho chamou a atenção de todos os presentes. Eles se viraram para a jovem princesa e viram uma mancha negra em sua roupa, na altura da cintura. Era um sangue escuro e viscoso. A mulher berrava alucinadamente e logo desabou no chão em contorcimentos assustadores. Lothar tentou acalma-lá e usar seus conhecimentos de medicina. O diagnóstico do sacerdote era um só: a moça tinha abortado! O descanso era necessário num dia tão cheio de surpresas...

Saindo de Veidrava antes do anoitecer, o grupo encontrou a embarcação de Jusfin se preparando para partir ao norte. Raistlin apresentou seus amigos ao capitão e a tripulação, que os receberam com certa desconfiança. Muitos protestos foram feitos pelos aventureiros quando um preço pela viagem foi estabelecido. O ouro de Ankara era puro e o grupo não queria perdê-lo para mercadores gananciosos. Durante a viagem os ânimos se exaltaram: o capitão desconfiava que os estrangeiros iriam saqueá-los e uma violenta discussão iniciou-se. Lothar, que em muitos momentos agia com paciência e moderação, esbravejava contra o comerciante. Espadas foram sacadas e o resto da tripulação lançou-se no rio diante do assalto ao barco.

Tendo resolvido o empasse de forma violenta, os viajantes tomaram o controle do barco e depois de algumas horas subindo o rio, aportaram na vila dos pescadores. Lá encontraram o lugar completamente arrasado por um incêndio. O cheiro de enxofre também era forte perto da vila. Raisltin tinha estado lá há apenas 2 dias e agora nada restava do pequeno povoado. Ouvindo vigorosos uivos de lobos nas proximidades, Thynnus decidiu seguir por uma estrada larga, que continha rastros recentes das carroças dos Andarilhos vistani. Havia também ali pegadas de algum animal de grande porte, como um urso ou talvez um texugo gigantesco. Depois de muitas horas de estrada, o grupo avistou as fogueiras do acampamento dos ciganos. Pelas redondezas o ranger também encontrou marcas de um carro-de-guerra e mais pêlos de texugo.