segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os Espelhos da Memória


Algo realmente sobrenatural se manifestava naquela sala onde o tempo parecia ter parado...Algo que desafiava a sanidade dos aventureiros mais experientes e provocava calafrios sem fim em qualquer mortal. Ali, sentado em seu gasto trono, estava a imagem de um ser de maldade suprema; uma entidade que uma vez fora um homem honrado mas que desafiou os deuses e blasfemou contra tudo o que eles representam. Ali, bem diante dos viajantes estava Lord Soth de Nedragaard, o infâme Cavaleiro da Rosa Negra! E olhar para aquela imagem era algo extremamente doloroso...a sanidade do grupo estava por um fio!

Poucos foram os aventureiros na Terra das Brumas que alguma vez estiveram face a face com um Lorde Negro. E menos ainda foram os que sobreviveram a esta experiência. Os crimes e atos vis cometidos por esses indivíduos são a energia que alimenta o Semi-Plano do Pavor. Mas alguma coisa estava errada: aquela imagem apagada, imóvel e aparentemente débil apenas remetia a tudo que o grupo ouvira sobre Lord Soth. Ele parecia perdido em memórias de seu trágico passado, entorpecido pelas ilusões que agora experimentava. Não era possível tocá-lo e tampouco desafiá-lo, afim de cumprir a profética sentença a qual o outrora nobre cavaleiro foi condenado. Ao redor do trono, fixados à parede, estavam 6 espelhos de formato oval. Os Espelhos da Memória, como havia falado Jaspo. Do que essas relíquias eram capazes? Quais poderes sombrios elas proporcionavam ao lorde negro? Ninguém ali naquela sala sabia dizer. O próprio Jaspo fora deixado na sala do Templo de Paladine, para que ele pudesse descansar e recuperar-se de tantos anos de tortura e privações. E Raistlin havia permanecido na biblioteca, imerso em sua busca pessoal por conhecimento e poder...

Capsoniwon aproximou-se do trono e tentou tocar o corpo do cavaleiro. Sua mão passou por entre a imagem que ali se mantinha imóvel. Não era possível tocar em sua espada, da mesma forma. O grupo pôs-se a pensar. Começaram a tentar remover o trono de lugar, o que demonstrou-se impossível. Examinaram a sala cuidadosamente, até que Capsoniwon começou a fitar hipnóticamente um dos espelhos durante alguns segundos. O reflexo da sala reproduzido no espelho deu lugar a uma cena selvagem, um estrada no meio da mata. De repente ela se viu transportada para tal cena! Ouvia-se alguns murmúrios no interior da mata, como um choro sendo preso. Do outro lado, na estrada, era possivel ouvir violentos galopes de cavalos que pareciam aproximar-se. Sentindo a aproximação de viajantes a cavalo, a elfa buscou abrigo na mata, escalando um pequeno barranco que a separava da estrada. Ao aproximar-se da floresta, ela pode determinar de onde vinham os lamentos: havia uma clareira na floresta onde uma dúzia de mulheres elfas eram feitas prisioneiras de uma horda de Ogros. Observado a distância, Capsoniwon voltou sua atenção para a estrada, onde naquele momento passava um grupo de cavaleiros. Era uma comitiva nobre, contando com cerca de 10 cavaleiros vestido pesadas armaduras, e no centro do bando uma carroça repleta de estandartes militares onde destacava-se o símbolo da Rosa Negra. Os cavaleiros passaram rapidamente pelo trecho e perderam-se de vista...A elfa resolveu procurar o ponto onde havia entrado naquela cena para voltar e falar com seus companheiros. Havia uma marca oval preta no meio da estrada, exatamente onde Capsoniwon aparecera anteriormente. Ela passou pelo círculo e viu-se novamente na sala do trono. Seus amigos, assustados, disseram-lhe que durante alguns minutos ela permaneceu imóvel e sob uma forma incorpórea, tal qual Lord Soth...Ela havia entrado em um dos Espelhos da Memória, onde o cavaleiro relembrava e recriava memórias de seu tormentoso passado.

Enquanto Capsoniwon recobrava-e da experiência no primeiro espelho, os demais aventureiros tentavam entrar nele, buscando cada um ao seu modo, a solução daquele enigma. Logo a seguir, a elfa começou a fitar o segundo espelho. Novamente foi transportada. Agora ela estava vestindo uma pesada armadura de cavalaria, ornada com o símbolo da rosa negra no peito. Ela andava por um corredor iluminado por lamparinas onde mais símbolos militares estavam dispostos nas paredes. Vozes ouviam-se na sala ao lado. Uma porta, no fim do corredor, parecia dar acesso ao local. Sem hesitar, a elfa abriu a porta e entrou, tapando o rosto com um capuz. Acontecia uma espécie de reunião naquele lugar. Cerca de 20 pessoas, quase todas membros da cavalaria, estavam sentados em 4 bancos de madeira, formando uma espécie de platéia. Diante deles estava uma tribuna composta por 3 indivíduos: dois homens que ostentavam vastos bigodes sentados nas pontas e ao centro uma mulher. Eles pareciam presidir essa estranha reunião. Havia um estandarte exposto atrás de cada um deles: uma espada, uma coroa e uma rosa, respectivamente. Quando a elfa entrou na sala, a conversa foi interrompida e todos os presentes a fitaram por um demorado instante. Um tanto constrangida por atrapalhar a formalidade da ocasião, Capsoniwon buscou sentar-se rapidamente. Prestando mais atenção na cena, a elfa percebeu que a mulher sentada ao centro da bancada era extremamente parecida com ela mesma, como se as duas fossem uma imagem refletida no espelho...Capsoniwon perdeu a respiração por um breve instante...aquela era, sem dúvida, Kitiara Uth Matar, a Dama Azul!

Entre a tribuna e a platéia estavam 2 homens de pé: um bastante jovem, vestido humildemente e com as mãos e pés acorrentados. O outro, vestido de maneira muito distinta, também ostentava um imponente bigode. Este último falava de forma exaltada e apontava para o jovem cabisbaixo. O homem de pé que acusava ferozmente o mais jovem era Lord Soth em sua forma humana original. O acusado só poderia ser...Caradoc! Poucos segundos depois, a mulher no centro da Tribuna anunciou em alto tom: - Caradoc, você está condenado à morte pela lâmina de sua própria espada por assassinar Lady Glandria, esposa de Lord Loren Soth de Dargaard. A sentença será cumprida na primeira luz da manhã! A sessão deste tribunal está encerrada - Aquela cena relembrava o julgamento de Lord Soth. Mas os papéis haviam se alterado: nessa cena era Lord Soth que acusava Caradoc! O jovem senescal do Castelo Dargaard havia sido julgado e condenado pelo assassinato de Lady Glandria, segundo a memória doentia do cavaleiro da Rosa Negra... E Kitiara presidia o tribunal da ordem de Solamnia?! Mas de acordo com o Conto da Dama Azul ela sequer era membro da ordem! Algo estava errado...

Os companheiros encontraram-se na sala depois que todos deixam os espelhos. A cena dos Ogros repetiu-se da mesma forma para o resto do grupo como acontecera para Capsoniwon. Algumas horas já haviam se passado nos poucos minutos em que eles estiveram imersos nas memórias de Soth. No entanto, muitas interrogações surgia nas cabeças dos aventureiros: mas qual a razão daquilo tudo? O que havia ali de importante para Lord Soth relembrar? Aquelas memórias não correspondiam literalmente a história de Lord Soth! Estavam mudadas, adulteradas, transformadas. Mas porque??? Nesse instante, Dimitre começou a recitar o Conto do Cavaleiro das Sombras, repetindo alguns versos que faziam menção ao ataque de um bando de Ogros a Lady Isolde e suas 13 companheiras. Foi naquela ocasião, parcialmente revivida no primeiro espelho, que Soth e Isolde se conheceram e onde começou toda a sua desgraça! Capsoniwon então afirmou: - Cada um desses espelhos traz alguma parte importante do passado de Soth. Ele tenta alterar a sua própria história revivendo esses episódios...Ele está tentando evitar conhecer Lady Isolde na primeira memória!!! Ele está acusando Caradoc pelo assassinato de Lady Glandria na segunda memória!!!

Tudo fazia sentido agora: os elfos de Sithicus estavam sofrendo de amnésia por que o lorde negro do domínio estava alterando suas prórias recordações. Terremotos, tempestades e toda sorte de calamidades aflingiam essa terra porque Lord Soth havia abandonado-a, vivendo os últimos meses imerso nos espelhos. O domínio provavelmente se reduziria ao Castelo Nedragaard se o Cavaleiro da Rosa Negra não fosse acordado de seu entorpecimento! Os aventureiros respiraram fundo, se entreolharam e resolveram que iriam entrar nesse espelho, tentando recolocar as memórias de Soth em seu curso normal, ou seja, fazendo com que as coisas se repetissem nos espelhos como realmente aconteceram na vida real do lorde negro! Ele deveria conhecer Lady Isolde e cometer todos seus crimes novamente...

Um comentário:

  1. Lothar me mata se ler isso...
    mas que saudade de Ravenloft!
    beijo pro saudoso Lord Soth.

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