A tempestade que se aproximava tremia os alicerces da velha ferraria élfica naquela noite úmida. A cada estrondo no céu de Sithicus, a humilde casa de madeira balançava-se de cima a baixo. Mas os viajantes de Ankara e o cigano Dimitre pouco se importavam com isso. Eles vasculhavam a loja do ferreiro como ladrões apressados. Beren, que trabalhou como aprediz em uma ferraria de sua vila natal, observava com cuidado a forja e as ferramentas do homem que um dia trabalhara ali. Parecia que a forja não era acesa há semanas...Após algumas tentativas, o grupo notou que havia uma espécie de fundo falso sob a forja. Os guerreiros fizeram extrema força para remover a enorme peça de metal de seu lugar. Isso acabou revelando a existência de uma pequena lajota removível. No fundo falso havia um baú trancado. Abrindo a arca a golpes de espada, algo extraordinário revelou-se ao grupo: dentro dela foi encontrada uma pesada e refinada armadura de metal! Junto a ela, anotações que possivelmente pertenciam ao ferreiro. Raistlin, analisando os escritos, encontrou uma dedicatória do autor logo nas primeiras páginas:
"Ao amigo Amorien, tudo que consegui encontrar sobre a lendária Dama Azul, Kitiara Uth Matar, e seus feitos. Recolhi essas histórias e versos entre os contos dos homens de Krynn que por aqui passaram nesse últimos 35 anos. Ass. Terban, de Baróvia.”
Seguia-se a dedicatória o Conto da Dama Azul
"Kitiara Uth Matar, a Dama Azul, Senhora dos Dragões
Filha do cavaleiro Gregor Uth Matar e Rosemun Aelan
Kitiara do sorriso arqueado, como na infância feliz
Tinha um olhar desafiador e a chama da audácia no peito
Linda e forte, muito cedo ele teve ambições
E logo deixou a pobre cidadela de Solace
Mas tornou-se uma devota das sombras
Sua sede de poder não teve mais limites
Tão logo tornou-se a comandante dos Dragões Azuis
A destruição ela espalhou por toda distante Ansalon
Ao lado do sombrio Cavaleiro da Rosa Negra
Seria a serva preferida de Takhisis, a Deusa da Escuridão
Seu fiel companheiro era Skie, o jovem dragão azul
Forte como uma montanha e veloz como um raio
Essa besta lutou furiosamente ao lado de sua senhora
E acompanhou-a em todas as suas conquistas por Krynn
Mas quando seu louco meio-irmão Raistlin Majeré
Tentou desafiar a grandiosa deusa dos dragões da noite
A Dama Azul prontamente correu ao socorro de Takhisis
E buscou impedir a qualquer custo os planos do mago.
Com a horda de dragões, a Dama Azul arrasou a cidade de Palanthas
Atravessou o bosque maldito e alcanço a Torre da Alta Feitiçaria
Mas lá a guerreira encontrou seu fim, pelas mãos do mago Dalamar.
Sob os olhos de seu antigo companheiro e amante, Tanis, o meio-elfo.
Ela foi traída, na hora mais escura, pelo Cavaleiro da Rosa Negra
Que a abandonou à própria sorte, no covil de seus inimigos
E logo depois, lá ele apareceu, para reclamar seu corpo sem vida
Um traição fria, como o toque desumano desse espectro andante.
O Cavaleiro caído levou seu corpo inerte para o forte Dargaard
Mas antes disso, já havia enviado seu servo fantasma, Caradoc
Para o Abismo, em busca da alma da Dama Azul, assim que ela morresse
O fantasma deveria aprisionar seu espírito numa jóia negra e leva-la ao forte.
Tendo o corpo da Dama Azul e seu espírito preso na jóia
O Cavaleiro das Sombras poderia trazê-la dos mortos
Para ao seu lado governar a escuridão pela eternidade
E dividir o fardo de danação ao qual foi condenado pelos deuses
Mas alguma coisa no vil plano do Cavaleiro não funcionou
Pois pelas mesmas mãos de deuses grandiosos a jóia se perdeu
E nunca mais foi encontrada no mundo dos homens e dos dragões
Só o fantasma Caradoc sabe qual foi seu fim, no infernal Abismo ou além
O grande dragão azul ainda busca pelo espírito de sua ama
E também espera a vingança contra o Cavaleiro Sombrio
Que traiu sua senhora e o arrastou junto no caminho das névoas
Em algum lugar, esse esplendido animal também vive seu martírio..."
A carta data de 10 de Deepkolt. Junto desses escritos encontrava-se um mapa das Montanhas Desaparecidas - uma região remota localizada no sudoeste de Sithicus - e desenhos de armaduras pesadas, modelos femininas e algumas instruções para fundir escamas de dragão ao metal. As anotações ainda falavam a respeito do covil de um dragão azul, que teria aparecido em Sithicus há cerca de 2 meses. No final do documento eram listadas possíveis datas para troca de pele do animal. Segundo o diário, a troca de pele era seguida por um período de hibernação que durava 1 mês. Alguns indícios apontavam que a armadura teria sido encomedada por Azrael, mas o ferreiro jamais realizou a entrega. Possivelmente ele esqueceu-se de onde havia escondido a peça em que trabalhava.
A armadura tinha traços femininos e depois de alguns ajustes, serviu muito bem em Capsoniwon. Agora a arqueira até parecia-se com uma imponente general de algum exército de terras distantes...talvez assim se parecesse Kitiara!

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