"O grande dragão azul ainda busca pelo espírito de sua ama
E também espera a vingança contra o Cavaleiro Sombrio
Que traiu sua senhora e o arrastou junto no caminho das névoas
Em algum lugar, esse esplendido animal também vive seu martírio..."
Thynnus repetia os últimos 4 versos do Conto da Dama Azul sem parar, procurando algum sentido oculto naquelas palavras. - É isso!!! - exclamou o elfo - O dragão de Kitiara está em Sithicus!!! Vamos procurá-lo e oferecer-lhe a vingança contra Lord Soth - Tudo parecia se encaixar agora. Com um aliado como Skie, até mesmo o Cavaleiro da Rosa Negra deveria respeitar aqueles viajantes ousados. Mas como encontrar a formidável besta reptiliana? O grupo resolveu seguir as indicações do ferreiro Amorien...
Abandonar a ferraria em Har-Thelen seria o mais sábio a fazer na quele momento! O grupo saiu rapidamente da casa depois do último encontro com Thomas Malek. Correram para o porto e lá encontraram uma ampla balsa aportada. Ao se aproximarem, reconheceram o capitão da embarcação: era o homem que os havia levado até Veidrava, 1 semana antes. Ele ainda mantinha aquele mesmo sorriso de deboche e alegria fútil no rosto e pela movimentação no porto, estava de partida. O grupo se pôs a negociar com o homem, que diante de uma vultosa oferta em ouro, aceitou levá-los até as Montanhas Desaparecidas em 2 dias. Para evitar mais problemas com as autoridades locais, resolveram partir imediatamente.
O barco viajou calmamente pelo rio Kremlim, fazendo somente uma parada na cidade de Hroth para se reabastecer. Chegando no sopé das Montanhas Desaparecidas, uma nova oferta foi feita ao capitão para que ele aguardasse o grupo por mais 2 dias. Mesmo resmungando algo em invídio, o homem aceitou. O viajantes então se prepararam para uma escalada árdua e perigosa pelo caminho traçado no mapa do ferreiro. Foi um dia todo de escalada. As montarias estavam exaustas. Beren sacou a corneta de ouro que havia conseguido em Tallah, a cidade dos anões. O elfo sobrou ela a plenos pulmões. Após alguns segundos ouviu-se um rugido que tremeu todo o solo próximo aos aventureiros, como se a própria montanha tivesse gritado...era o grito de Skie.
Thynnus e Raistlin acharam alguns restos de bois da montanha mortos há cerca de 1 mês. Se o dragão estava naquela região, certamente deixaria marcas de suas refeições. A caminhada continuou e o ranger conseguiu laçar 2 bois das montanhas, que serviriam de oferenda caso o dragão fosse realmente encontrado. Apesar das intempéries locais, os animais se mostravam saudáveis e ainda novos. O dragão apreciaria sua carne, com certeza...
No cair da noite, o grupo chegou até uma ampla caverna, de onde parecia que os rugidos haviam se originado. Lothar e Dimitre carregavam tochas e o frio era intenso naquelas altitudes extremas. O chão estava repleto de carcaças, ossos e restos de armas e armaduras. Um voz grave, como se vinda das profundezas do Abismo, soou forte e gelada naquela caverna:
- Quem se aproxima? Quem ousa entrar em meu refúgio?
- Somos viajantes de outros mundos, como você! - retrucou Lothar
- Aproximem-se devagar, mamíferos...se vieram atrás de algum tesouro, nada acharão! Se vieram caçar-me, a própria destruição irão encontrar!
Ao olharem para aquele réptil gigantesco enroscado a seu próprio corpo, os companheiros notaram que seus olhos estavam brancos e sem pupilas...talvez o dragão estivesse cego! Além disso, Skie parecia bastante fraco. Talvez recém estivesse acordando de sua hibernação.
- Trouxemos comida para você, como um presente - falou Thynnus, pausadamente.
- Vieram aqui me adorar então? Hahahaha - riu com ironia, a besta, enquanto sentia o cheio dos animais que lhe eram oferecidos. Com uma mordida, o dragão azul abocanhou um boi inteiro, que foi estraçalhado em algumas mastigadas. O outro boi logo também encontrou seu fim nas presas do réptil faminto.
- Sabemos quem você é, Skie! Podemos lhe ajudar em sua busca - falou Rastlin, com audácia. O animal respondeu com mais uma gargalhada, enquanto mastigava o segundo boi.
- Digam por que vieram aqui, enquanto ainda tenho paciência para com visitas sem importância!
- Estamos confrontando Lord Soth. Podemos lhe conceder a vingança que você tanto espera contra o traidor de sua Senhora. - respondeu Dimitre, sem hesitação.
- Vocês, me concederem alguma vingança?!!! Um bando de seres insignificantes?
O silêncio preencheu a caverna por algum tempo, enquanto o dragão terminava sua refeição. Os companheiros se entreolhavam, vendo que talvez nunca estiveram tão próximos da morte como naquele momento, naquele lugar...
- Estou perdendo a minha visão desde que cheguei nesse maldito lugar. E não posso me aproximar do forte de Soth. Como vocês o confrontarão? Como esperam destruir Lord Soth de Dargaard, seu bando de tolos?
- Há uma profecia! O Cavaleiro da Rosa Negra só pode ser destruído se a sentença for cumprida...pela sua própria espada! - retrucou o meio-vistani, como se tirasse um peso enorme de suas costas.
- Ahh sim! A punição da Ordem de Solamnia...é possível.
- Eu me proponho a ser seus olhos nesse mundo, Skie! Confie em mim eu eu lhe oferecerei a vingança contra Lord Soth - completou Beren.
- Meu nome é Khellendros! Jamais me chamem de Skie novamente...Espero que vocês tenham um plano, aventureiros. Já vi Soth destruir centenas de homens corajosos sem sequer sacar a espada.
- Confie em mim e meus companheiros, Khellendros. Essa é a única forma de todos nós sairmos desse mundo.
- Eu preciso de 2 dias para me recuperar. Vocês podem seguir viagem. Nos encontramos no caminho...
- Se você permitir, eu ficarei aqui e lhe guiarei, Khellendros. Não temos pressa!
Os aventureiros sairam do covil do magnífico réptil suspirando com alívio. Eles acamparam em outra gruta e nos dias que se seguiram, mais bois foram oferecidos ao dragão. Uma aliança parecia ter sido selada naquela imensidão gelada. No último dos dias o grupo iniciou a descida até o barco, torcendo para que a ganância do capitão por ouro estrangeiro fosse maior que seus compromissos comerciais na Invídia. E lá estava a embarcação, lançando-se de volta ao rio. O grupo fez sinais para o barco parar e logo alcançaram-no na margem. Após ouvirem as reclamações do homem sobre o acordo, um som altíssimo rompeu a cena, fazendo o barco balançar com força extraordinária. O dragão azul surgiu no alto do céu, trazendo Beren em uma das garras dianteiras. O capitão e toda a tripulação se atiraram desesperadamente no rio, tentando salvar suas vidas. Não se viu mais aqueles pobres coitados que tentavam fugir de um suposto ataque draconiano.
O barco seguiu ao norte, comandado por Dimitre. Em 1 dia o grupo chegou até a estrada para a fortaleza Nedragaard.