
Imagens se repetiam nas cabeças dos aventureiros logo após experimentarem aquele episódio no primeiro espelho mágico. As suas próprias memórias pareciam confusas e desordenadas por alguns momentos, até que todos se recobraram. Dimitre notou, observando através de uma das janelas laterais da sala do trono, que o sol parecia bem mais baixo do que quando eles haviam chegado àquele aposento. Os poucos minutos que o grupo passou no interior do primeiro espelho correspondiam a horas, talves dias, no mundo real. Esse descompasso certamente era um dos motivos do abondono de Sithicus pelo seu mestre: Lord Soth havia perdido completamente a noção de tempo no interior dos Espelhos da Memória. A noite já se anunciava no horizonte e era preciso agir com rapidez. Capsoniwon então apontou para o segundo espelho e disse aos amigos:
- Vamos entrar lá...é um tribunal da cavalaria! Temos que impedir que Lord Soth seja inocentado do assassinado de Lady Glandria! Vamos...
- Vamos entrar lá...é um tribunal da cavalaria! Temos que impedir que Lord Soth seja inocentado do assassinado de Lady Glandria! Vamos...
Os companheiros seguiram a elfa e postaram-se diante do segundo espelho. Logo as imagens da sala do trono de Nedraagard foram substituidas por um corredor iluminado por tochas. Nas paredes estavam expostos estandartes militares. Ouvia-se vozes na sala ao lado do corredor. os companheiros agora vestiam armaduras pesadas, vestidos a moda dos cavaleiros de Solamnia. Capsoniwon foi guiando os companheiros com pressa até que alcançaram a porta que dava acesso a tribuna. Abriram-na e, como da outra vez, os tribunos que falavam foram interrompidos. Todos os presentes dispararam um demorado olhor aos visitantes, mas nada de anormal fora constatado. O grupo buscou acomodar-se em um dos bancos, tentando abreviar aquele instante constrangedor.
A mesa era formada por três pessoas: dois homens sentados às pontas da tribuna, e uma mulher ao centro. Diante deles estava um jovem cavaleiro ajoelhado, vestido de forma humilde e acorrentado pelas mãos e pés. Logo ao seu lado, na posição de acusador, estava aquele mesmo homem da carroça. Era Lord Soth...A mulher que presidia o tribunal, de provavel elevada posição na ordem, era incrívelmente parecida com Capsoniwon. A elfa sussurrou aos companheiros: - Esta mulher é Kitiara! Todos prenderam a respiração naquela hora...


Foi então que a mulher na tribuna retomou a palavra:
- Após essa breve interrupção, voltemos a ler a sentença! Sir Caradoc, você está condenado a execução pela lâmina de sua própria espada pelo assassinato de Lady Glandria, esposa de Lord Loren Soth de Dargaard, e seu filho recém nascido. Sua condenação será realizada à primeira luz da manhã. Que os deuses tenham piedade de sua alma...
De repente Beren se levantou como se estivesse acordando de um sonho terrível. O elfo novamente foi notado pelos presentes e criou-se um novo momento de tensão no tribunal. Os magistrados olhavam atentamente para Beren como se já esperassem aquele momento. Então o elfo exclamou:
- Não condenem esse pobre coitado sozinho! Ele não é mais culpado que seu mentor...o verdadeiro mandante do crime é esse que está entre nós! O elfo lentamente desviava o olhar do acusado para o nobre cavaleiro de pé, diante da tribuna.
Os presentes foram surpreendidos com tamanha ousadia! Os tribunos tentaram controlar o barulho que tomou conta da sala. Mas quem não conseguia disfarçar sua reação era o acusador. Nesse momento Lothar encarou o Cavaleiro da Rosa Negra com fúria e então lhe apontou o dedo dizendo:
- Foi Lord Soth quem mandou matar a própria esposa e o filho. Ele desonrou sua família e quebrou os votos da Ordem! Não é verdade Soth?
O lorde negro virou-se com desespero e raiva para àqueles que considerava intrusos e sacou sua espada.
- Vermes traidores, como ousam!
Quando parecia que ele iria irromper sobre os aventureiros os guardas presentes o seguraram. Todos ali sabiam que sacar uma espada durante um tribunal da Ordem de Solâmnia era uma ofensa grave. Lord Soth tentava desesperadamente livrar-se dos guardas, completamente fora de si. Até que golpeou um deles mortalmente...Ele acabara de assinar sua confissão! Caradoc, que mais parecia ter saindo de um estado de encantamento ou controle mental, começou então a descrever aos berros as ordens que recebeu de Soth naquela maldita noite e deu detalhes do crime e de como ele foi friamente concebido pelo seu mestre. Falava de cartas secretas e assim, o romance proibido de Soth e Isolde foi desmascarado diante da corte da Ordem de Solâmnia. O tribunal virou uma espécie de espetáculo circense, com gritos histérios, gargalhadas, música, choro e lamentações. Lentamente a cena foi ficando embaçada nas mentes dos aventureiros. Eles haviam cumprido mais uma cena da vida de Soth...
De repente, os aventureiros se encontravam novamente na sala do trono, mas desta vez a pobre luz da tarde já se mostrava gasta e o manto da noite de Sithicus começava a cobrir o horizonte. O grupo trocou um olhar de preocupação: se eles não abandonassem o Forte Nedraagard o mais rápido possível, as terríveis Banshees viriam persegui-lhes com seu lamento mortal e seu toque gélido. Era preciso pressa! Os heróis correram para o andar de baixo, a procura de Jaspo, deixando para trás a imagem um pouco materializada do Cavaleiro da Rosa Negra, sentada em seu gasto trono de escuridão...Mas e quanto a Raistlin? Onde se metera aquele elfo desde que foi deixado na biblioteca de Lord Soth???

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