
Recuperados de mais um mergulho na doentia mente do Cavaleiro da Rosa Negra, os companheiros entreolhavam-se, buscando reconhecer uns nos outros o que lhes restava de coragem. O silêncio frio da sala foi quebrado quando Capsoniwon avançou em direção ao quarto espelho. A elfa virou-se para os companheiros e disse sem hesitar:
- Vamos! Só faltam mais 3 espelhos...
Os aventureiros então a seguiram e começaram a encarar o terceiro Espelho da Memória. Logo todos se viram transportados para outro espaço, com outras roupas e outra aparência. Parecia que estavam em uma cidadela. Havia grande agitação nas ruas: pessoas correndo desesperadas por todos os lados, animais em disparada, camponeses fechando suas casas, milícias marchando pelas ruas e cavaleiros armados avançando na contracorrente da população em revoada. Quando o fogo surgiu nos primeiros telhados de palha da cidade é que os aventureiros perceberam que se tratava de um ataque violento ao local. E eles foram lançados em meio aquele caos...o cigano Dimitre resmungou então:
- Essa memória deve ser a Batalha de Palanthas! Lord Soth e Kitiara estão invadindo esta cidade!!! Ele deve estar fantasiando uma vitória aqui...devemos derrotá-lo!
Em meio a estrondos e sons de batalha, nos limites dos gigantescos muros da cidade surgia uma imagem dantesca: uma espécie de fortaleza flutuante se aproximava lentamente dos céus da cidadela. A medida que se aproximava foi possível definir melhor o que eram aquelas criaturas que voavam em torno da fortaleza. Para o pavor generalizado de todos, era um exército enfurecido de Dragões Azuis e Negros! Um risco de pavor atravessou os heróis por alguns segundos. Logo em seguida, enquanto passavam por uma rua em chamas, perceberam que o portão principal de palanthas havia cedido e uma horda de cavaleiros morto-vivos realizava ensandecido assalto sob o comando de um homem forte, vestindo uma pesada armadura de Solamnia. Sem dúvida, aquele era o memso homem que lhes desafiou em todos os espelhos desde então: Lord Loren Soth de Dargaard.

O infâme cavaleiro negro fitou os heróis com um ar desafiante. Lord Soth chamou 4 cavaleiros consigo, ensaiando uma investida. Um pequeno bando de draconianos, criaturas meio-humanas, meio-dragões acompanhavam o destacamento pelo ar. Foi quando os aventureiros perceberam que alguém os estava seguindo. Um meio-elfo trajando armadura, usando uma brilhante coroa de ouro e com espada em punho se colocava em posição de combate.
- Olá forasteiros! Se não querem morrer aqui mesmo é melhor sairem do caminho daquele cavaleiro. Mas se estiverem dispostos a defender Palanthas com suas vidas, saquem suas espadas. Aquele é Lord Soth e seu exército de mortos...Eu sou Thannis, o meio-elfo.

O homem interrompeu o que dizia ao cruzar olhares com Capsoniwon. Embora a elfa estivesse trajando um capuz de algodão grosso, à moda dos camponeses locais, seus olhos ainda eram idênticos aos da Dama Azul, a ambiciosa guerreira que liderava o ataque contra Palanthas. Após um segundo de hesitação, o meio-elfo tornou a concentrar-se na batalha que se aproximava. Os draconianos chegavam em rasante contra o grupo. Capsoniwon, Thynnus e Lothar sacaram seus arcos e desferiram uma saraivada de setas sobre os despresíveis répteis voadores. Beren e Dimitre sacaram suas espadas e se preparavam para o assalto da cavalaria. O meio-elfo também aguardava o melhor momento, esperendo pacientemente pela aproximação do batalhão montado no meio daquela larga via de pedras. Lord Soth parecia reconhecer o meio elfo. O cavaleiro negro cuspiu no chão ao ver seu velho inimigo mais uma vez no campo de batalha. Sua voz soou como gelo na madrugada, quando ele apontou para Thannis e reclamou:
- Entregue-me a coroa, meio-elfo. Ou hei de massacrar você e todos os seus amigos. Palanthas cairá ainda esta noite, tolo.
Thannis não moveu um músculo. Apenas lançou um olhar de quem já havia derrotado o cavaleiro negro em alguma outra ocasião do passado. Enquanto isso, os Dragões cruzavam os céus da cidade, destruindo torres, incendiando telhados e derrubando muralhas que obstaculavam sua fúria.
Chegado o momento do ataque, a coroa usada por Thannis meio-elfo começou a brilhar. Com um salto veloz, desferiu um golpe certeiro no ombro de Lord Soth. Os draconianos feridos a flechadas caiam sobre outros cavaleiros mortos, tornando a cena mais confusa e violenta. Beren acertou um dos companheiros de Soth. Dimitre transpassou com sua espada um draconiano caído que agonizava. Lothar já sacava seu machado e recitava louvores à Enlil, enquanto Thynnus e Capsoniwon ainda atiravam flechas para todas as direções. Pouco a pouco aqueles que Lord Soth julgava um bando de adversários fracos e desonrados haviam derrotados quase toda sua retaguarda. Mas mesmo sozinho, o ar de morte que aquele homem carregava fazia o mais destemido guerreiro ter pesadelos...
Lord Soth sinalizou para um dos Dragões Azuis vir em seu socorro, enquanto ensaiava mais uma manobra ofensiva. Os aventureiros se aproximavam, em formação de defesa. Lothar gritou ferozmente aos amigos:
- Temos que derrotá-lo antes do ataque do Dragão!!! É assim que isso deve terminar...
Thannis meio-elfo olhou sem entender uma palavra dita pelo sacerdote. Mesmo assim, concordava que a única maneira de evitar o ataque da besta reptiliana era aproximar-se de seu mestre, Lord Soth. O Cavaleiro da Rosa Negra esporou o cavalo e partiu em direção ao grupo, sem demonstrar o menor temor pela sua desvantagem numérica. Sacudiu a espada no ar, sobre a cabeça e acertou o meio-elfo em no ombro, devolvendo a ofensa anterior. Thannis soltou um rugido animalesco, como se tivesse os olhos furados com brasa. O guerreiro livrou-se do que restava do escudo que carregava naquele braço. O ferimento que aparecia estava congelado, queimando a pele profundamente. Mas o meio-elfo não se abateu. Enquanto se recobrava do golpe a coroa voltava a brilhar.
Nos céus, aquele Dragão Azul parecia mais ameaçador a cada segundo. A besta começou a contorcer o pescoço, preparando uma baforada mortifera que não pouparia qualquer um naquela praça forte. Quando Lord Soth se virava, preparando uma nova manobra, os companheiros avançaram alguns metros, diminuindo o caminho para o assalto do cavaleiro. Thannis aproveitou-se da manobra dos forasteiros para correr em direção a Soth, com uma velocidade incrível.
Pela retaguarda, o Dragão Azul começava um vôo rasante direcionado contra o grupo. Pelo lado frontal, Lord Soth preparava sua montaria para mais um ataque alucinado. Os aventureiros estavam em uma encruzilhada. Somente um golpe certeiro e a benção de todos os deuses os salvariam do extermínio. Mas os deuses demonstram piedade para com os mortais que não tremem em situações como estas. Lord Soth já estava quase em cima do grupo quando Capsoniwon tirou o capuz, olho-o nos olhos e lançou duas flechas em seu tórax. O lorde negro se viu paralisado naquele mesmo momento: Kitiara, a Dama Azul, que liderava aquele ataque, havia passado para o lado dos rebeldes??? Sua amada companheira havia traído Takhisis para lutar ao lado de seu antigo amante, Thannis meio-elfo??? Havia traído ele próprio e suas hordas de dragões e morto-vivos??? Tudo embaralhou-se na mente do Cavaleiro da Rosa Negra. Nesse momento, Beren se jogou no chão e enterrou a espada na carne podre da montaria de Lord Soth. O cigano Dimitre golpeou o punho do lorde negro, que acabou soltando aquela maldita espada no chão. Thannis acertou um golpe em cheio no elmo de Soth. O cavaleiro foi lançado e caiu de costas no meio da rua. Seu sangue negro ainda espalhava-se pelas vielas imundas de Palanthas quando a cena começou a evaporar-se. Logo estavam todos de volta a sala do trono de Nedragaard, pensando em quão bravo era o tal Thannis meio-elfo...

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