terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Segundo Espelho: o tribunal da cavalaria


Imagens se repetiam nas cabeças dos aventureiros logo após experimentarem aquele episódio no primeiro espelho mágico. As suas próprias memórias pareciam confusas e desordenadas por alguns momentos, até que todos se recobraram. Dimitre notou, observando através de uma das janelas laterais da sala do trono, que o sol parecia bem mais baixo do que quando eles haviam chegado àquele aposento. Os poucos minutos que o grupo passou no interior do primeiro espelho correspondiam a horas, talves dias, no mundo real. Esse descompasso certamente era um dos motivos do abondono de Sithicus pelo seu mestre: Lord Soth havia perdido completamente a noção de tempo no interior dos Espelhos da Memória. A noite já se anunciava no horizonte e era preciso agir com rapidez. Capsoniwon então apontou para o segundo espelho e disse aos amigos:

- Vamos entrar lá...é um tribunal da cavalaria! Temos que impedir que Lord Soth seja inocentado do assassinado de Lady Glandria! Vamos...

Os companheiros seguiram a elfa e postaram-se diante do segundo espelho. Logo as imagens da sala do trono de Nedraagard foram substituidas por um corredor iluminado por tochas. Nas paredes estavam expostos estandartes militares. Ouvia-se vozes na sala ao lado do corredor. os companheiros agora vestiam armaduras pesadas, vestidos a moda dos cavaleiros de Solamnia. Capsoniwon foi guiando os companheiros com pressa até que alcançaram a porta que dava acesso a tribuna. Abriram-na e, como da outra vez, os tribunos que falavam foram interrompidos. Todos os presentes dispararam um demorado olhor aos visitantes, mas nada de anormal fora constatado. O grupo buscou acomodar-se em um dos bancos, tentando abreviar aquele instante constrangedor.

A mesa era formada por três pessoas: dois homens sentados às pontas da tribuna, e uma mulher ao centro. Diante deles estava um jovem cavaleiro ajoelhado, vestido de forma humilde e acorrentado pelas mãos e pés. Logo ao seu lado, na posição de acusador, estava aquele mesmo homem da carroça. Era Lord Soth...A mulher que presidia o tribunal, de provavel elevada posição na ordem, era incrívelmente parecida com Capsoniwon. A elfa sussurrou aos companheiros: - Esta mulher é Kitiara! Todos prenderam a respiração naquela hora...


Foi então que a mulher na tribuna retomou a palavra:

- Após essa breve interrupção, voltemos a ler a sentença! Sir Caradoc, você está condenado a execução pela lâmina de sua própria espada pelo assassinato de Lady Glandria, esposa de Lord Loren Soth de Dargaard, e seu filho recém nascido. Sua condenação será realizada à primeira luz da manhã. Que os deuses tenham piedade de sua alma...

De repente Beren se levantou como se estivesse acordando de um sonho terrível. O elfo novamente foi notado pelos presentes e criou-se um novo momento de tensão no tribunal. Os magistrados olhavam atentamente para Beren como se já esperassem aquele momento. Então o elfo exclamou:

- Não condenem esse pobre coitado sozinho! Ele não é mais culpado que seu mentor...o verdadeiro mandante do crime é esse que está entre nós! O elfo lentamente desviava o olhar do acusado para o nobre cavaleiro de pé, diante da tribuna.

Os presentes foram surpreendidos com tamanha ousadia! Os tribunos tentaram controlar o barulho que tomou conta da sala. Mas quem não conseguia disfarçar sua reação era o acusador. Nesse momento Lothar encarou o Cavaleiro da Rosa Negra com fúria e então lhe apontou o dedo dizendo:

- Foi Lord Soth quem mandou matar a própria esposa e o filho. Ele desonrou sua família e quebrou os votos da Ordem! Não é verdade Soth?

O lorde negro virou-se com desespero e raiva para àqueles que considerava intrusos e sacou sua espada.

- Vermes traidores, como ousam!

Quando parecia que ele iria irromper sobre os aventureiros os guardas presentes o seguraram. Todos ali sabiam que sacar uma espada durante um tribunal da Ordem de Solâmnia era uma ofensa grave. Lord Soth tentava desesperadamente livrar-se dos guardas, completamente fora de si. Até que golpeou um deles mortalmente...Ele acabara de assinar sua confissão! Caradoc, que mais parecia ter saindo de um estado de encantamento ou controle mental, começou então a descrever aos berros as ordens que recebeu de Soth naquela maldita noite e deu detalhes do crime e de como ele foi friamente concebido pelo seu mestre. Falava de cartas secretas e assim, o romance proibido de Soth e Isolde foi desmascarado diante da corte da Ordem de Solâmnia. O tribunal virou uma espécie de espetáculo circense, com gritos histérios, gargalhadas, música, choro e lamentações. Lentamente a cena foi ficando embaçada nas mentes dos aventureiros. Eles haviam cumprido mais uma cena da vida de Soth...

De repente, os aventureiros se encontravam novamente na sala do trono, mas desta vez a pobre luz da tarde já se mostrava gasta e o manto da noite de Sithicus começava a cobrir o horizonte. O grupo trocou um olhar de preocupação: se eles não abandonassem o Forte Nedraagard o mais rápido possível, as terríveis Banshees viriam persegui-lhes com seu lamento mortal e seu toque gélido. Era preciso pressa! Os heróis correram para o andar de baixo, a procura de Jaspo, deixando para trás a imagem um pouco materializada do Cavaleiro da Rosa Negra, sentada em seu gasto trono de escuridão...Mas e quanto a Raistlin? Onde se metera aquele elfo desde que foi deixado na biblioteca de Lord Soth???

Primeiro Espelho: o ataque aos Ogros


Ao entrarem no primeiro espelho novamente o grupo já podia ouvir o distante som da comitiva de Lord Loren Soth de Daagard percorrendo aquela estrada em meio a mata. Sobre o barranco os companheiros também podiam ouvir os murmuros de lady Isolde e das elfas prisioneiras do bando Ogro. Pois então que Beren e Dimitre colocaram-se no meio da estrada. Lothar empunhou seu símbolo sagrado e tomou a frente do companheiros. Logo surgiu o grupo de batedores e, atrás deles, a carruagem de Lord Soth, onde estava exposto seu brasão: a Rosa Negra. Os aventureiros se colocaram diante dos cavaleiros obrigando-os a parar, sob o risco de serem atropelados pelos animais. Os quatro batedores fizeram sinal ao restante do comboio, sacando suas longas espadas para a defesa de seu senhor. A comitiva parou e Lothar interpelou os batedores:

- Olá nobres cavaleiros! Somos viajantes e acreditamos que vocês, como homens honrados e guerreiros valorosos, não deixariam que uma desgraça se precipitasse bem aqui, nessa floresta!

- E que desgraça seria essa, sacerdote? Qual o motivo de vocês viajantes interromperem a marcha da comitiva de Lord Loren Soth de Daagard?

- Vocês, cavaleiros e homens de guerra, podem evitar que tal desgraça se consume! Ouçam o que vos digo pois sei que é dever de nobres homens lutar contra injustiças e violências contra os fracos e incapazes. É dever defender as mulheres da brutalidade desse mundo!

Nesse momento, a figura de um nobre homem, alto e de olhar austero, surge em meio as cortinas da carruagem. Ele sinaliza aos batedores que guardem suas espadas. - O que se passa aqui, forasteiros? O que vocês desejam?

Dimitre fala com seu sotaque carregado, tentando não olhar diretamente para aquela figura imponente e de distinta posição social.

- Donzelas élficas estão sendo feitas prisioneiras de um bando de desprezíveis Ogros logo acima dessa colina!

Instantes de silêncio e desconfiança pairaram naquela estrada perdida na floresta. O Lorde e seus cavaleiros trocaram olhares, como se perguntassem quem eram esses bandoleiros. Estariam eles mentindo ou tramando alguma emboscada contra um grupo tão bem armado e organizado como os cavaleiros de Lord Loren Soth de Daagard? Seriam tolos o suficiente para tal intento?

Rompendo aquele instante, o meio-cigano continuou: - Se não acredita em nossa palavra, mande 2 de seus batedores até a colina e confirme que o que vos digo é a pura verdade! Se não nos apressarmos, as damas elfas certamente terão um destino doloroso e terrível nas mãos de tais bestas!

O Lorde, ao ouvir aquele apelo, como se tomado de fúria e indignação apressou-se para montar seu corcel e liderar um grupo de 8 cavaleiros, que foram guiados pelos aventureiros até o acampamento dos Ogros. Esgueirando-se na mata, o grupo já conseguia enxergar a fogueira e as donzelas elfas amarradas ao redor. Soth sinalizou para seus homens alguma manobra militar e subitamente os cavaleiros se lançaram com determinação sobre o bando de Ogros. Enquanto isso, Capsoniwon, Thynnus e Lothar desferiam flechas sobre os inimigos do meio da mata. Beren e Dimitre sacaram as espadas e seguiram os cavaleiros, dando-lhes retaguarda. A batalha tornou-se um violento espetáculo de sangue e aço. Os Ogros, por um instante surpreendidos, já recobravam-se e desferiam pesados golpes com suas clavas sobre os cavaleiros de Soth. Mas esses homens, dotados de bravura e determinação incomuns, avançavam numa carga louca sobre o bando, como se aquela batalha fosse a última que travariam antes de apresentarem-se diante dos deuses, no fim dos tempos. Logo as feras, mais numerosas mas menos organizadas em batalha, começavam a tombar. Os aventureiros de Ankara e Dimitre olhavam com desconforto para Lord Soth. Nesse instante ele investia contra o líder do bando Ogro. Aquele homem de voz carregada e olhar brilhante, que nesse instante era um companheiro de batalha do grupo, era o mesmo ser que havia causado tanto mal através dos séculos. Um monstro sentado em seu frio trono, capaz das maiores atroçidades para alcançar seus nefastos propósitos. Um homem além da redenção...uma alma sombria que eles mesmos deveriam enfrentar logo que terminassem suas aventuras nos Espelhos da Memória.

Quando 9 dos 13 Ogros do bando já foram abatidos no ensandecido combate, os demais resolveram bater em retirada, salvando suas próprias vidas. É nesse momento que os cavaleiros e os membros do grupo começam a libertar as donzelas elfas de suas amarras. Ao todo contam-se 13 elfas adultas. Mas uma delas é especial: os aventureiros olhavam com apreensão quando Lord Soth aproximava-se de Lady Isolde. Quando o calejado cavaleiro de Solamnia cruzou seu olhar com o daquela pura e incrivelmente linda mulher, seu coração forjado nas batalhas mais brutais experimentou um momento de calma e doçura. Lord Soth perdeu a fala e ficou por alguns instantes somente fitando aqueles olhos mágicos. Naquele momento o cavaleiro esqueceu-se de seus votos, de sua Ordem, de seus inimigos, de sua esposa grávida e de tudo o mais que não fosse a exuberante Isolde. E foi nesse mesmo instante que as visão dos companheiros começou a embaralhar-se e todos se viram de volta àquela fria sala do trono do Forte Nedragaard, no coração de Sithicus. A cena do primeiro espelho cumpriu-se como realmente foi...