sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os aventureiros se encontraram numa manhã chuvosa de outono, na praça central de Rotwald, capital de Valachan. Cada um deles tinha uma história e uma boa razão para atender ao pedido do Conselheiro Guiltanas, um dos homens mais prestigiados da cidade. Eles foram reunidos ali para um serviço simples e bem pago: escoltar o jovem Emirikon até o Mosteiro da Lua Cheia, onde este seria iniciado nos assuntos da fé. Emirikon era pupilo de Guiltanas e tinha nascimento nobre. Pouco mais se sabia sobre aquele reservado homem. Os guias da caravana seriam o halfling Maurer – um antigo artista de circo que acabou ficando em Rotwald e tornando-se um pequeno golpista – e a elfa Käuinn, uma caçadora que morava reclusa nas matas próximas à cidade. Os dois eram profundos conhecedores das estradas locais e do misterioso caminho ao mosteiro, que o povo acreditava ser assombrado. Os demais fariam a guarda do nobre e ajudariam no transporte de seus pertences. Dois mercenários locais e a elfa Aistana – uma exilada de Sithicus conhecida na cidade como guerreira notável – seriam os responsáveis pela segurança de Emirikon.

O adiantamento de metade do soldo foi feito pelo Conselheiro e as últimas recomendações foram dadas. Tudo pronto para a partida quando, num último momento, um anão chamado Nicodemus, dito sacerdote de Ezra, pedira permissão para juntar-se aos viajantes alegando que existia uma vila no caminho onde seus serviços eram de extrema necessidade. Lorde Guiltanas e Emirikon acharam de bom agouro que um peregrino acompanhasse o bando e a permissão foi concedida, embora sem nenhum pagamento. Os propósitos do anão nesta jornada, no entanto, se revelariam outros.


Ao longo da viagem, o jovem nobre manteve um ar reservado, sempre esquivando-se  das conversas dos homens a seu serviço e de perguntas inoportunas sobre seu passado. Passava a maior parte do tempo lendo e anotando informações em seu diário e as poucas palavras que trocava eram com seu cavalariço Rufus. Os aventureiros, ao contrário, já dividiam causos sobre suas andanças e compartilhavam os boatos sobre a viagem e seus desafios, além do vinho barato das tavernas de Rotwald. Os guardas, no entanto, ficaram desconfortáveis com a história que Käuinn contou sobre uma vila de pastores que havia sido tragada pelo pântano, num local há 3 dias de viagem dali. Aistana não se impressionou: quando deixou Sithicus, assistiu a coisas muito mais terríveis...

Na primeira noite de viagem os guardas da caravana se deparam com uma cena incomum: todos estavam em volta do fogo quando um dos homens foi buscar água e descobriu um cadáver pendurado em uma árvore próxima à estrada. A vítima tinha as mãos decepadas e estava pendurada pelo pescoço. Além disso, havia estranhas pinturas no corpo nu do morto. O pequeno Maurer alertou seus companheiros de que aquela provavelmente era uma punição por um crime grave. Nicodemus completou que se tratava de um violador de sepulturas. O cadáver foi retirado e jogado em um riacho próximo, amarrado a uma pedra. Alguns aventureiros ficaram inquietos, considerando aquilo um sinal de má sorte.


No segundo dia de viagem Emirikon mandou que a caravana parasse em um ponto da estrada e pediu que uma pequena escolta o levasse até um local assinalado em um velho mapa. Os dois guias o levaram a uma colina onde, misteriosamente, estava erguido um desfigurado monumento de pedra em forma de cruz. O jovem observou cuidadosamente a construção e fez algumas anotações, sem proferir uma palavra. Os guias olhavam com desconfiança o misterioso nobre e seus estranhos hábitos. Käuinn chegou a confrontar o jovem com perguntas sobre a verdadeira natureza desta viagem e sobre o tal mosteiro. Emirikon foi mordaz, afirmando que eles não estavam sendo pagos para fazer perguntas ou investigar sobre seus negócios particulares. Mesmo descontente, Käuinn ficou mais algum tempo analisando o monumento e copiou uma estranha inscrição que Emirikon pareceu ignorar, localizada na parte de trás do monumento. Retomaram o caminho de volta à carruagem num silencio perturbador...


À noite, junto ao fogo, Käuinn conversou com o anão Nicodemus e perguntou-lhe se seria capaz de decifrar a inscrição. O anão observou os rabiscos da meio-elfa e chegou a seguinte frase: “Hyskosa passou por aqui”, escrita em baroviano arcaico. Sem ter certeza se aquilo tinha algum significado mais profundo, os dois esperaram por um momento propício para interrogar Emirikon, que certamente saberia do que se tratava a inscrição.

No terceiro dia de marcha, os viajantes encontram um vilarejo de lavradores que não aparecia em nenhum mapa. As boas vindas oferecidas à caravana foram as piores possíveis: um porco morto, com as patas amarradas em ramos de alho havia sido deixado na entrada da vila. No dorso do animal estava escrito “bruxo”. Um sinal claro de hostilidade àqueles que os aldeões consideravam envolvidos com bruxaria. Diante disso, Emirikon achou melhor permanecer na sua carruagem, nos limites do povoado, enquanto seus homens reabasteciam as provisões no mercado local. Durante o trato com os comerciantes, Maurer descobriu que um bando de Vistani passou pela cidade há 3 dias e anunciou que “um grande bruxo virá do leste”, inflamando a população da vila com superstições e crendices contra os futuros visitantes. Sem muita demora, a caravana retomou sua jornada em direção ao mosteiro. Naquela noite, no entanto, algo sobrenatural espreitava o caminho destes desgraçados...

Chegando às margens de uma floresta onde a estrada já encontrava-se tomada pelo mato, estranhos sons rodearam a noite. Do fundo da floresta emergiu uma névoa púrpura que se espalhava com rapidez. Os cavalos ficaram assustados e o cheiro de morte e loucura podia ser sentido na brisa outonal. Emirikon pediu ao cocheiro que parasse, mas algo empurrou os animais em direção à mata. A névoa já se espalhara pelos campos ao redor, cercando o bando de aventureiros de forma irremediável. Na colina, outro estranho viajante que seguia o grupo à distância observou todos sendo tragados pela nuvem rósea. Ragnor, o meio-vistani, soubera da viagem de Emirikon e resolveu seguir a caravana, buscando ter com o jovem mago informações sobre o paradeiro de seu clã. Mas aquilo era insanidade! De repente sua montaria também saiu de controle e galopou em direção à mata. A nuvem os havia engolido da mesma forma...   
    

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